Escolha desastrada de slogan dá ideia de como será difícil defender reformas na eleição
De mais marcante, a celebração oficial do aniversário de dois anos do governo Michel Temer, na terça-feira (15), suscitou uma onda de comentários jocosos com o convite que apresentava o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.
Logo se percebe que a sentença desastrada, se lida sem a vírgula, descreve um retrocesso brutal. Esse, claro, foi o principal motivo das chacotas, além de novo mote para os ataques políticos à hoje esvaziada administração emedebista. Existe mais de revelador, entretanto, nas palavras escolhidas.
Trata-se de óbvia referência ao lema celebrizado no Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, de “50 anos em 5” —o quinquênio em questão era o período 1956-61. Eis, portanto, um governo que se pretende liberal e modernizador a se promover com a sintaxe do velho desenvolvimentismo nacional.
Algo semelhante se nota na tentativa de compilar as realizações da breve gestão de Temer que justificariam tamanho ufanismo.
No balanço elaborado pelo Planalto listam-se, com maior ou menor propriedade, a alta programada do salário mínimo, saques nas contas do FGTS, o crédito à agricultura familiar, o reajuste do Bolsa Família, as casas construídas pelo Minha Casa, Minha Vida.
Esses e outros feitos do poder público ainda têm mais apelo, no debate eleitoral do país, que reformas destinadas a conter os gastos e a intervenção do Estado na economia —esta, de fato, a agenda fundamental do governo.
Os candidatos identificados com tal plataforma —e aqueles que, premidos pela conjuntura, terão de recorrer a ela— enfrentarão o desafio de torná-la palatável numa campanha presidencial.
Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, saiu-se com a meta de dobrar a renda dos brasileiros em 20 anos, o que demandaria um crescimento médio anual do Produto Interno Bruto na casa dos 4%.
Compreende-se a lógica: é um modo de dizer que o rombo orçamentário, a burocracia e o estatismo reduzem o potencial de expansão da economia. Mas a promessa hoje parece pouco palpável.
Seria menos difícil sustentá-la se o país vivesse uma recuperação acelerada do emprego, dos salários, do consumo, da produção. O que se vê, porém, é um desempenho decepcionante neste ano, traduzido pela queda recém-apurada do indicador de atividade do Banco Centralno primeiro trimestre.
O dado mostra que, embora tenha ficado para trás a recessão iniciada sob Dilma Rousseff (PT), a retomada frágil mantém o país em patamar ainda inferior ao do fim de 2010. Esse, sim, é um retrocesso prestes a ser medido em década.
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