quinta-feira, 24 de maio de 2018

Tibieza tucana: Editorial | Folha de S. Paulo

Não são poucas as incertezas a rondar a candidatura de Geraldo Alckmin

Em sabatina realizada por Folha, UOL e SBT nesta quarta (23), o pré-candidato Geraldo Alckmin deixou transparecer parte da estratégia que deverá adotar em sua campanha ao Palácio do Planalto.

O tucano se apresenta como um postulante experiente, com realizações a mostrar no governo paulista, para o qual foi eleito três vezes —deixou o comando do estado em abril, para disputar a Presidência. Cita, entre outros aspectos, as boas estradas, concedidas à iniciativa privada, e a notável redução de índices de homicídios.

Apoiador da agenda de reformas liberais iniciadas pelo governo Michel Temer (MDB), propõe um regime único para a Previdência Social e promete eliminar o déficit das contas do governo em menos de dois anos. A recompensa seria o crescimento econômico, que neste ano anda abaixo do previsto.

Quanto aos percentuais minguados que tem obtido nas pesquisas de intenção de votos, minimiza a importância dos resultados com o argumento de que o pleito ainda não mobiliza os eleitores.

Se a tese é razoável, não são poucas as incertezas a rondar sua candidatura —a começar pelo tema inescapável da corrupção.

Embora ainda em estágio inicial, há investigações que envolvem o próprio Alckmin. Ao responder sobre a acusação do Grupo CCR de que teria recebido R$ 5 milhões em caixa dois em 2010, o pré-candidato tachou o relato de “absurdo”.

Procurou mostrar rigor ao falar de correligionários como o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, que nesta mesma quarta se entregou para o cumprimento da pena de 20 anos e um mês de prisão relacionado ao mensalão local.

Ao tratar da perspectiva constrangedora de compartilhar palanque com Aécio Neves (MG), réu no Supremo Tribunal Federal, afirmou que o senador não disputará cargo.

Defendeu ainda o esclarecimento das suspeitas envolvendo Paulo Vieira de Souza, ex-auxiliar de governos estaduais do PSDB acusado de operar propinas. “Não passamos a mão na cabeça de ninguém.”

Essa retórica contrasta com a atuação pregressa do partido —que tratou com tibieza indesculpável os casos de Azeredo e, mais recentemente, de Aécio, seu candidato presidencial nas últimas eleições.

Alckmin, que ora preside a sigla, busca se manter como o nome mais viável no campo da centro-direita.

Tal condição se mostrava muito mais sólida em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), quando patrocinou vitórias expressivas nas eleições municipais. O discurso moralizador tucano, porém, não sobreviveu à Lava Jato.

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