No momento em que candidatos à esquerda e à direita mobilizam as atenções com propostas simples – e em geral erradas – para problemas complexos, trazendo profunda inquietação sobre o resultado da eleição presidencial, é alentador que as forças do centro democrático estejam se organizando para levar ao eleitor propostas que expressem seu compromisso com o reformismo e com a responsabilidade fiscal.
O nome mais recente a se oferecer para levar adiante essa bandeira – que não é apenas do atual governo, mas sim de todos os brasileiros ajuizados – é o do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, apresentado pelo presidente Michel Temer como pré-candidato do MDB à Presidência. Meirelles pretende usar como trunfo seus bons resultados à frente da equipe econômica de Temer, que conseguiu debelar, em prazo curtíssimo, a imensa crise legada pela administração irresponsável da presidente cassada Dilma Rousseff.
O País saiu de uma recessão de quase 8% em dois anos, com queda de 9% na produção industrial, inflação de 9,3% e taxa de juros de 14,25% em maio de 2016 para uma retomada do crescimento que pode superar 2% neste ano, com aumento de 3% na produção industrial, inflação sob controle – menos de 3% – e juros básicos em nível civilizado (6,5%). A retomada da economia ainda está muito aquém da capacidade e do potencial do Brasil, mas, quando se olha o passado recente, a sensação é de alívio.
No entanto, ainda há muito a ser feito para garantir que essa recuperação seja mantida, a começar pelas reformas que ficaram pendentes – e que não foram aprovadas em razão da erosão do apoio parlamentar ao governo de Temer, depois que o presidente se viu bombardeado por denúncias repletas de escândalo e carentes de provas. A principal reforma, como se sabe, é a da Previdência, sem a qual o funcionamento da máquina do Estado ficará severamente comprometido.
As forças do atraso, contudo, apostam na ignorância e na mistificação para prevalecer. Em vez de aceitar a responsabilidade fiscal como um fato incontornável, já há quem defenda até mesmo o calote da dívida – ameaça cuja mera menção, a depender da viabilidade eleitoral de quem a enuncia, é capaz de desestabilizar os mercados. Foi exatamente o que aconteceu em 2002, quando a possibilidade real de vitória do então candidato do PT à Presidência, Lula da Silva, foi suficiente para causar enormes transtornos à economia, em razão da natural identificação do PT com a irresponsabilidade.
Mutatis mutandis, pode-se dizer que a marcha da retomada do crescimento no governo de Temer foi interrompida em razão da perspectiva tenebrosa de que um desses aventureiros possa ter chances reais de chegar lá. Afinal, poucos são os empresários que se dispõem a investir na produção no momento em que não se sabe que rumo terá o próximo governo – se na direção do desenvolvimento ou na do abismo.
Não por acaso, Meirelles salientou esse cenário em seu discurso, ao dizer que candidaturas de risco geram instabilidade. É hora, portanto, de mobilizar as forças políticas engajadas no reformismo e na gestão sensata das contas públicas para isolar os que, ao contrário, lucram com o tumulto. Se devidamente esclarecidos, os eleitores haverão de reconhecer que não há outro caminho senão o aprofundamento das medidas de austeridade para recolocar o País no rumo do desenvolvimento sustentável. No caso de Meirelles, a plataforma para esse fim, consubstanciada no documento Encontro com o Futuro, lançado pelo MDB junto com a pré-candidatura do ex-ministro, delineia claramente o objetivo de abandonar a cultura estatista e aprofundar a economia de mercado, realizando as reformas necessárias para viabilizar esse modelo, o único capaz de garantir o futuro do País.
É claro que os obstáculos para uma candidatura com esse espírito são inúmeros – a começar, por exemplo, pelo próprio MDB, que tem entre seus caciques aqueles que não pensam senão em seus próprios interesses e não se vexam de se aliar à turma do retrocesso, mesmo que seja o lulopetismo. O caminho, portanto, será árduo, mas pode-se dizer que, apesar das trovoadas, o horizonte começa a se tornar um pouco menos cinzento.
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