Por Fernando Exman e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Os dois mais bem colocados candidatos de direita e centro-direita na corrida presidencial, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), foram ontem para o enfrentamento e trocaram acusações.
Em sabatina em São Paulo promovida pelo portal UOL em parceria com o jornal "Folha de S. Paulo" e o SBT, Alckmin afirmou que quem anda para trás é caranguejo. "O Brasil não vai regredir. O Bolsonaro e o PT são a mesma coisa, é o atraso. Ele votou igual ao PT em toda as pautas econômicas", afirmou no evento, depois colocando a declaração em sua conta no Twitter.
Por meio da rede social, Bolsonaro rebateu a acusação de que ele seria igual ao PT porque seus votos no Legislativo mostrariam uma posição corporativista. O pré-candidato do PSL lembrou as acusações de que o PSDB teria pago propina a deputados para aprovar a emenda que permitiu a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1998. "Geraldo Alckmin me rotula de atrasado por meus votos do passado. Um dos que mais me orgulha foi o contra a reeleição de FHC. Não aceitei propina do seu partido PSDB", escreveu. "Sr. Alckmin, estou aguardando alguém da sua laia me chamar de corrupto", continuou.
O tucano voltou então às redes sociais: "Bolsonaro se irritou quando revelei que vota com o PT em pautas econômicas há décadas, inclusive contra o Plano Real. Em resposta, fugiu do assunto. Fez acusações irresponsáveis ao meu partido, de forma grosseira". Na sequência, compartilhou denúncias sobre o patrimônio do adversário e o uso de auxílio-moradia. "Nos meus mais de 40 anos de vida pública, não enriqueci, tampouco recebi benefícios indevidos. Tenho trabalho para mostrar", escreveu.
A troca de acusações também chegou à marcha que a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) promove em Brasília com a presença de pré-candidatos a presidente e prefeitos de todo o país. Perguntado por jornalistas se havia recebido alguma proposta para votar em favor da reeleição, Bolsonaro afirmou que "só faltou alguém ir no microfone e anunciar". No mesmo evento, o ex-governador paulista também voltou a tocar no assunto. "Se recebeu alguma proposta, tinha o dever de ter denunciado", sublinhou.
Em seu discurso, Bolsonaro afirmou que gostaria de ver o Brasil com um planejamento familiar e defendeu mudanças na forma de o Ministério Público trabalhar. Para ele, em vez de ver jovens homens e mulheres pensando em ter filhos a fim de ter elevado um benefício social, que eles tenham responsabilidade. Ponderou que não poderia se estender no assunto, mas destacou que isso não seria a mesma coisa que controle de natalidade.
Bolsonaro afirmou que não se deve acabar com as investigações e elogiou o trabalho do Ministério Público, mas acrescentou que a instituição tem os seus problemas. "Temos que ser prefeitos, governadores e presidente sem medo."
Diante de demandas dos prefeitos, o deputado alertou que não há solução fácil e que o principal problema do país é a falta de dinheiro, o que tem impacto direto, por exemplo, na saúde e na segurança. Ele comparou a situação do Brasil a de um tio que casou com uma viúva com sete filhos e até hoje não foi à lua de mel. "O Brasil está arrebentado."
Sem dar detalhes, disse que seu programa de governo proporá a criação de uma nova Previdência, para a qual quem quiser poderá migrar, uma vez que a atual está inviabilizada. Já Alckmin, que voltou a dizer ser possível dobrar a renda do brasileiro, defendeu a adoção de um só regime geral de Previdência - com contribuição definida, e não o benefício.
Representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no evento, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), também fez críticas a procuradores e juízes. Gleisi disse que Lula é vítima de uma perseguição política, o que ocorre também com prefeitos, por parte de agentes que não têm respaldo do voto do eleitor e mesmo assim querem definir políticas públicas. "Temos que enfrentar isso." Tanto Gleisi como Bolsonaro receberam o apoio da plateia quando trataram do tema. A senadora leu uma carta de Lula, na qual ele reafirma sua candidatura a presidente da República e sua inocência.
Outros representantes do centro político participaram de painéis em meio à marcha de prefeitos. O pré-candidato do MDB, ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, colocou a boa gestão da economia como prioridade do próximo governo. "Precisamos em primeiro lugar um governo que assegura a economia em funcionamento", discursou, lembrando que isso deve não ser feito como um fim, mas como meio para garantir crescimento, emprego, renda e baixa inflação. Ele disse estar seguro de ter apoio de um grande número de diretórios estaduais para confirmar sua candidatura na convenção do MDB.
Afif Domingos (PSD) pontuou que não é hora para aventureiros, lembrando o slogan da sua campanha de 1989: "Juntos chegaremos lá". Guilherme Boulos (Psol) não compareceu.
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