Significado e causas da onda de protestos de 5 anos atrás continuam a desafiar analistas
Cinco anos depois de sua eclosão, os protestos que tomaram o país em junho de 2013 ainda provocam perplexidade naqueles que, com simpatia ou sentimento crítico, tentam encontrar a chave para sua interpretação.
Identificar as causas de um fenômeno tão complexo já seria desafio considerável; outro problema, talvez insolúvel por um bom tempo, é o de delimitar o sentido histórico de tudo o que ocorreu.
O governo Dilma Rousseff (PT) e boa parte das administrações estaduais e municipais beneficiavam-se de altos índices de popularidade no ano que precedia a realização da Copa do Mundo no Brasil.
Um ato localizado, contra o aumento nas passagens de transporte coletivo, viria a desembocar numa onda de manifestações gigantescas, com bandeiras de toda ordem e participantes de todo tipo.
Em comum, sem dúvida existia a vontade de contrapor insatisfações latentes em diversos setores da sociedade ao sentimento de triunfalismo de que estavam imbuídas as autoridades, em especial petistas, às vésperas do Mundial.
Estavam muito aquém de um “padrão Fifa”, como se dizia na época, os serviços de saúde, de segurança e de educação oferecidos à população urbana brasileira.
O poder público financiava estádios suntuosos, o que —embora os custos equivalessem a uma fração minúscula das despesas sociais— tornou-se símbolo de uma aparente inversão de prioridades.
O descontentamento estudantil com os aumentos de tarifas se avolumava enquanto o prefeito de São Paulo e o governador do estado, um petista e outro tucano, confraternizavam-se em Paris.
Os protestos cresciam —ainda mais depois que a polícia paulista atacou manifestantes com selvageria. Milhares sem reivindicação específica a vocalizar engajaram-se em atos contra tudo, contra todos, a favor disto, a favor daquilo, e de mais ainda.
Na repressão ou na falta de diálogo, na indiferença ou na arrogância, sentiu-se o hiato entre o mundo dos políticos e o dos cidadãos.
No centro do poder, os petistas sofreram os impactos mais duradouros da agitação das ruas, de onde brotaram movimentos de oposição à esquerda e à direita.
Teria sido necessário um verdadeiro gênio político, algo que Dilma Rousseff estava longe de ser, para canalizar tantos sentimentos difusos em uma proposta positiva de reforma social e política.
Mais à frente, como se sabe, houve a Lava Jato —impulsionada, aliás, pela legislação anticorrupção aprovada em resposta às jornadas de 2013— e o impeachment. Hoje, persistem as insatisfações daquele tempo; quanto às esperanças, trata-se de reinventá-las, sem a violência em que as manifestações degeneraram por muitas vezes.
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