O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, tem acusado aliados do partido de fazer corpo mole. Para o tucano, eles estariam mais preocupados com suas campanhas nos estados. Estagnado nas pesquisas e irritado com as críticas, Alckmin chegou a dizer, em jantar com tucanos, que, se quisessem, poderiam retirar a sua candidatura.
Alckmin acusa aliados de corpo mole na campanha
Irritado, ex-governador chegou a sugerir a líderes que o substituam
Silvia Amorim, Cristiane Jungblut e Maria Lima | O Globo
-SÃO PAULO E BRASÍLIA- O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, manifestou de forma dura o descontentamento com o corpo mole dentro do partido, especialmente em São Paulo, estado que governou por sete anos. E admitiu que sua campanha apresenta desempenho negativo até o momento. Em um jantar com lideranças tucanas na capital paulista, anteontem, o tucano chegou a sugerir, em tom de desabafo, que a legenda poderia substituí-lo, caso não estivesse satisfeita. O resultado foi imediato. Ontem mesmo, a bancada do PSDB da Câmara fez uma verdadeira fila para gravar mensagens de vídeo, de 20 a 30 segundos de duração, em apoio ao colega.
A reunião em São Paulo havia sido marcada pelo presidenciável para discutir questões de organização para as eleições estaduais e nacional. Mas acabou servindo para uma ampla avaliação da campanha. E para uma discussão sobre mudanças de rumo e cobranças pela definição de um coordenador político de peso. Bastante nervoso e mostrando cansaço, Alckmin, segundo os presentes, “explodiu”.
— Eu estou fazendo tudo que posso, estou andando, viajando sem parar, resolvendo problema de Minas Gerais, Maranhão. O que vocês querem que eu faça mais? O PSDB me escolheu como candidato, preciso de ajuda nos estados — desabafou Alckmin.
Um dos presentes avalia que Alckmin está nervoso por causa de delações que podem impactar sua campanha, e pela divulgação de pesquisas em que aparece atrás de Marina Silva e Ciro Gomes.
— Nós falamos que é preciso ele ter um coordenador político para tomar conta das articulações. Ele não pode fazer tudo sozinho. O pessoal vê a estrutura de campanha do (João) Doria em São Paulo azeitada, muito bem estruturada, com uma equipe de comunicação que funciona, e olha para a campanha nacional e não vê nada disso, cobra — disse um dos presentes.
Alckmin acredita que as lideranças nos estados estão fazendo campanha apenas com foco regional, esquecendo do cenário nacional. E revelou temor com o avanço de Jair Bolsonaro em seu eleitorado tradicional. Na visão de aliados que participaram do jantar, o pré-candidato não deu sinais de que cogite desistir da candidatura, apesar da irritação com a falta de apoio interno.
A conversa em um apart-hotel começou em tom bastante informal, regada a pizza. Elogios a Alckmin eram alternados com reclamações sobre a preparação do partido. Entre as queixas, ouviu que negociações de alianças estaduais estariam correndo de forma frouxa, o que estaria permitindo que partidos aliados lançassem candidaturas a governador onde o PSDB teria candidato próprio. Falta de interlocução nas diversas regiões também foi apontada como uma falha, assim como a exposição do presidenciável, considerada abaixo do esperado. O financiamento das campanhas também entrou no cardápio do jantar.
O próprio Alckmin disse que é preciso esperar o fim da Copa do Mundo e que tem como meta fechar uma aliança com o DEM. Ele mantém o tom otimista, de que estará no segundo turno contra um candidato do PT. E avalia que Bolsonaro cairá nas pesquisas depois de iniciada a campanha eleitoral.
— O Geraldo é assim, tem o passinho dele. É preciso saber traduzir o Geraldo — disse um dos seus conselheiros.
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