- O Estado de S.Paulo
Ou os adversários se dão conta de que precisarão confrontar o presidenciável ou a cristalização de seus votos se tornará maior
Não entendo patavinas de futebol americano, mas uma das imagens mais recorrentes do jogo é aquela em que jogadores dos dois times ficam se pegando no meio do campo e um escapa e corre até fazer o touchdown. A campanha presidencial brasileira está nesse estágio: um monte de candidato próximo ao traço nas pesquisas se engalfinhando no centro enquanto Jair Bolsonaro corre várias jardas com a bola, sem marcação.
O deputado do PSL acaba de cruzar a barreira dos 20% com certa margem, de acordo com levantamento do instituto DataPoder360. O mais impressionante é que a retirada de nada menos que nove postulantes num dos cenários testados não altera em nada o quadro: Bolsonaro segue impávido, e aquele que espera se beneficiar da tal união no centro, Geraldo Alckmin (PSDB), empacado em 6% ou 7%.
Havia uma suspeita (desejo?) de que o ex-capitão tivesse alcançado seu teto num patamar pouco inferior, na casa de 17%, mas isso ainda não se mostrou verdadeiro.
Alheios aos números e à resiliência bolsonariana – que tem eleitores convictos, militantes e cada vez menos “envergonhados” da escolha –, nomes como Alckmin e mesmo aqueles com índices ainda mais raquíticos, como Henrique Meirelles (MDB), insistem de forma um tanto arrogante na tese (desejo, de novo?) de que ele vai minguar quando a campanha começar de fato e não tiver tempo de TV ou estrutura partidária.
Com base nessa “certeza”, adiam entendimentos políticos para reduzir o bolo no meio de campo, uma pulverização que não atende a um recorte da sociedade – basta para constatar isso o fato de que poucos desses nove candidatos têm mais que 1% de intenção de votos –, mas a tentativas dos partidos de se cacifar ou a capricho pessoal dos postulantes.
Parece uma aposta fundada em velhos paradigmas, que têm sido desafiados dia a dia não só no caso brasileiro, mas no mundo. Ou os adversários se dão conta de que precisarão confrontar Bolsonaro – suas ideias para o Brasil, sua noção de democracia, sua trajetória parlamentar, seus aliados, sua base partidária, sua plataforma para a economia – ou a cristalização de seus votos se tornará maior. Jogar parado não parece ser uma boa ideia numa eleição que será disputada tão no corpo a corpo quanto uma partida de futebol americano.
SEM TELINHA
Com muitos candidatos, emissoras reavaliam debates
Executivos de algumas das principais emissoras de TV aberta já confidenciam que, se não houver significativa redução do número de candidatos a presidente, elas podem desistir de realizar debates no 1.º turno. Pelas regras eleitorais, candidatos com baixíssima densidade têm presença obrigatória nesses programas, enquanto outros de maior relevância política e índices nas pesquisas, como Marina Silva (Rede), não – e teriam de ser convidados por critérios jornalísticos. As direções das emissoras aguardam a decantação do quadro de postulantes antes de bater o martelo sobre datas.
ABSTENÇÃO
Alto índice de ‘não voto’ preocupa partidos e TSE
O TSE estuda fazer uma campanha institucional sobre a importância do comparecimento às urnas, diante do alto índice de abstenção das eleições suplementares realizadas no fim de semana. Vários partidos também devem usar seus perfis nas redes sociais para salientar a importância do voto.
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