Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Num evento esvaziado, sem representantes dos principais partidos que o grupo pretendia atrair, aliados do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, lançaram ontem manifesto "por um polo democrático e reformista" com o objetivo de unir as candidaturas de "centro" em torno de um único nome já no primeiro turno da eleição.
O secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), principal articulador do movimento ao lado do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), citou como candidatos do "centro" o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), o senador Alvaro Dias (Pode-PR), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o empresário Flávio Rocha (PRB). No ato, contudo, não havia representante desses partidos.
A maioria dos 19 deputados presentes era do PSDB, com um parlamentar do PSD, três do PPS - incluindo seu presidente, Roberto Freire (SP), que já declarou apoio a Alckmin - e um do MDB, o deputado Jarbas Vasconcellos (PE). O MDB governista, ligado ao presidente Michel Temer, passou longe do lançamento.
Três deputados do DEM chegaram a participar da elaboração do documento, mas decidiram não aparecer no ato ontem e dizem que não assinaram o texto, apesar de aparecerem como signatários. "Participamos da ideia, mas não poderíamos fazer nada que gerasse atrito com o partido, que tem pré-candidato próprio", disse José Carlos Aleluia (BA).
O grupo lançará um site para que o manifesto receba adesões da sociedade e os pré-candidatos à Presidência serão procurados. Alguns, como Dias e Maia, já rejeitaram compor com o PSDB.
Pestana diz que há duas opções: que esses partidos se aliem no primeiro turno para evitar a fragmentação que poderia levar aos "extremos" - na visão do grupo, a esquerda e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ); ou que façam apenas um pacto não agressão, com promessa de apoio no segundo turno. "O problema dessa segunda opção é que, divididos, podemos não chegar lá", afirmou.
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos signatários, mandou uma carta para defender que o manifesto "é um chamado à consciência" sobre as consequências profundas e duradouras que terão nossas ações e inações. "O Brasil precisa recuperar a confiança no futuro. Não chegaremos lá voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado recente do lulopetismo", escreveu.
Os discursos seguiram o tom contra os "radicalismos". Roberto Freire acusou uma aliança entre a esquerda e Bolsonaro nos protestos dos caminhoneiros para desestabilizar o país e derrubar o governo. "Temos que ter clareza que, se não conseguirmos a união no primeiro turno, algo de importante sai daqui: o compromisso com a liberdade democrática e um pacto de não agressão", afirmou. Outros discursos fizeram referência ao movimento LGBT, crítico a Bolsonaro.
O manifesto faz acenos a eleitores dos dois grupos: defende o combate a corrupção e postura firme na segurança pública "baseada no princípio de tolerância zero com o crime organizado", a manutenção do Bolsa Família e soluções para moradia, "aprendendo com a experiência acumulada pelo Minha Casa, Minha Vida". Também sinalizou ao mercado com a promessa de equilíbrio fiscal, diminuição do Estado e de uma reforma do sistema previdenciário.
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