quarta-feira, 6 de junho de 2018

Greve dos caminhoneiros impacta balança comercial: Editorial | Valor Econômico

O comércio exterior foi uma das várias atividades econômicas indiscutivelmente prejudicadas pela greve dos caminhoneiros em maio. A média diária das exportações entre os dias 21 e 31 caiu 36% em comparação com a das três primeiras semanas do mês, de US$ 1,063 bilhão para US$ 679 milhões. As importações também diminuíram, embora menos, 26%, de uma média diária de US$ 702 milhões nas três primeiras semanas do mês para US$ 516 milhões nas duas de paralisação.

No mês fechado, as exportações somaram US$ 19,2 bilhões, 10,7% a menos do que no mês anterior, e com aumento de apenas 1,9% em relação a maio de 2017. A queda das exportações teria sido maior não fosse a existência de soja, carnes e algumas mercadorias básicas estocadas nos portos quando a greve começou. Além disso, outros produtos importantes da pauta brasileira, como minérios, chegam aos portos principalmente por ferrovias. De toda forma, todos perderam. Mais dependentes das rodovias, os produtos manufaturados foram os mais afetados, com redução de 46% nas exportações durante a paralisação na comparação com o período anterior. Houve queda de 30% nos embarques de calçados, de 23% das autopeças e de 17% de automóveis. Já as exportações de semimanufaturados caíram 37%; e a de produtos básicos, 31%.

As importações totalizaram US$ 13,3 bilhões, com queda de 8,6% em relação a abril e salto de 14,5% na comparação anual. Houve queda de 16,1% nas compras de bens de capital; de 9,1% de produtos intermediários; de 21,7% de bens de consumo duráveis; e de 1,5% de combustíveis e lubrificantes. Apenas as importações de bens de consumo não-duráveis aumentaram no mês, 5,7%. Em relação a maio de 2017, cresceram 14,5%.

No balanço final, o superávit comercial de maio ficou em US$ 5,981 bilhões, cerca de 20% abaixo da expectativa média do mercado. No ano, o superávit comercial soma US$ 26,155 bilhões. O governo ainda espera que a balança feche o ano com saldo acima de US$ 50 bilhões. No mercado financeiro, as previsões são mais elevadas. Pesquisa Focus realizada pelo BC mostrou que a previsão das instituições financeiras e consultorias para o saldo comercial do ano ficou praticamente inalterada, em US$ 57 bilhões.

Já se esperava um recuo em relação ao saldo positivo histórico de US$ 67 bilhões de 2017 por conta da expectativa de que a esperada recuperação econômica ampliasse as importações. No entanto, os acontecimentos do mês passado colocam as projeções em dúvida. As exportações devem continuar se ressentindo do impacto negativo da greve na produção. A fabricação de automóveis, itens importantes da balança comercial, por exemplo, deve cair 20% na comparação com maio do ano passado. O setor agropecuário, que vem puxando o Produto Interno Bruto (PIB), teve importantes perdas, como o abate forçado de aves por falta de ração. Toda uma geração de animais foi perdida e levará tempo para que seja recuperada.

Além disso, há a mudança das regras do Reintegra, programa que favorecia o setor exportador com a devolução de parte dos impostos pagos. O governo reduziu o benefício do Reintegra de 2% para apenas 0,1% com o objetivo de compensar parte das perdas estimadas em R$ 4,01 bilhões com a redução dos impostos sobre o diesel, de modo a diminuir o preço do combustível, uma das demandas dos grevistas. Com a mudança, o governo deve garantir R$ 2,27 bilhões. A medida reduz a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional. Por outro lado, pende a favor das exportações a mudança de patamar do dólar, desencadeada pela expectativa de aperto da política monetária americana. A cotação projetada para o fim do ano de acordo com a pesquisa Focus subiu de R$ 3,37 para R$ 3,50 no último mês.

Receia-se ainda que a greve dos caminhoneiros afete as previsões para o PIB do ano por conta da redução da produção e abalo da confiança em função da mudança de regras e demonstração de fraqueza do governo, que pode afetar os investimentos de um modo geral. Finalmente, deve-se levar em conta também o efeito global da guerra comercial que os Estados Unidos deslancharam, com impacto mais visível no Brasil nas exportações de aço e alumínio.

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