quarta-feira, 6 de junho de 2018

Manifesto para unir centro não empolga e expõe divisão

Vera Rosa | O Estado de S. Paulo

O lançamento do manifesto Por um Polo Democrático e Reformista mostrou que a proposta de união do centro político, no primeiro turno da campanha eleitoral, é cada vez mais difícil de sair do papel. Nos bastidores, dirigentes de partidos do bloco dizem que a ideia tem o objetivo de alavancar a pré-candidatura do exgovernador Geraldo Alckmin (PSDB), em dificuldades nas pesquisas.

Com a chancela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – que não compareceu ao ato no Salão Verde da Câmara, mas enviou mensagem pregando convergência –, o manifesto não pareceu empolgar nem mesmo quem deveria se interessar por ele. Nenhum dos pré-candidatos à Presidência apareceu.

A proposta feita dois dias antes pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, foi chamada de “utópica” e criticada dentro do seu próprio partido, o MDB. Marun sugeriu que todos os presidenciáveis de centro retirem suas pré-candidaturas e durante um mês discutam um programa “arrojado” para o País, antes de decidirem quem será escolhido para liderar a chapa e para ser vice. “Ou os partidos que fizeram o impeachment (da ex-presidente Dilma Rousseff) se unem ou é a derrota, porque o segundo turno será entre os extremos”, afirmou Marun. O ministro admitiu até a possibilidade de apoio do MDB ao PSDB na disputa.

“Discordo frontalmente de Marun, que não tem autoridade partidária para retirar nenhuma candidatura”, disse ao Estado o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR). “Não vamos abrir mão do Meirelles. A escolha de um candidato não é prova oral para ser feita por uma comissão, como quer Marun. Precisamos mesmo ter nervos de aço nessa campanha.”

Idealizador do manifesto, o secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), ditou a receita para nada mais desandar. “Queremos fazer o papel do fermento, e não da massa do bolo”, resumiu ele, ao garantir que ninguém ali roubará o protagonismo dos pré-candidatos. Para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que também ajudou a preparar o documento, a constatação de que a iniciativa foi feita sob medida para jogar holofotes sobre Alckmin “não faz sentido”, mas revela o racha do centro político.

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