Por Fernando Lopes | Valor Econômico
SÃO PAULO - Se boa parte do setor de agronegócios já via com bons olhos a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, sobretudo em São Paulo e outros Estados do Centro-Sul do país, a possibilidade de a senadora Ana Amélia (PP-RS) ser indicada como vice do tucano para a disputa tende a consolidar esse apoio, ainda que os últimos sinais da gaúcha tenham indicado que sua prioridade é a reeleição para o Senado.
Da lista de candidatos a vice de Alckmin, Ana Amélia, que compõe a bancada ruralista do Congresso, é a mais bem vista pelo agronegócio, ainda que o ex-deputado Aldo Rebelo (SD) tenha angariado simpatia como relator de um Código Florestal que anistiou o setor do pagamento de multas de desmatamentos realizados no passado. Pesa contra Rebelo, contudo, o passado comunista e o fato de ser sido ministro nos governos Lula e Dilma, o que arrepia as alas do campo mais à direita que flertam com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O deputado Mendonça Filho (DEM-PE), outro cotado, não estava no radar das lideranças do setor para compor a chapa do tucano.
Ana Amélia está, atualmente, entre os políticos mais respeitados pelo setor. Não raramente, é tratada como "a presidente que gostaríamos de ter" nas dezenas de eventos dos quais participa como palestrante ou debatedora nos principais polos agropecuários do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Sua imagem é tão positiva entre produtores, empresários rurais e executivos de agroindústrias que sua presença confere prestígio a eventos e peso a discussões.
Foi assim, por exemplo, na ExpoLondrina. No fórum de Agronegócios do tradicional evento realizado todos os anos no município paranaense, Ana Amélia discursou em dois painéis - um deles moderado pelo Valor - e mais de uma vez foi interrompida por aplausos em ambos, sobretudo ao exigir políticas agrícolas mais eficientes e postura firme do país em negociações internacionais. Ao se retirar, levou uma coleção de beijos, abraços e tapinhas nas costas e deixou um rastro de comentários elogiosos.
"Gosto muito da Ana Amélia. Conversei com o Geraldo [Alckmin] sobre ela há cerca de 15 dias. Há alguma dificuldade na negociação para ela ser vice dele, mas vou torcer para que dê certo", afirmou um cacique agrícola que o ex-governador paulista costuma consultar sobre os rumos do setor. Outro representante do setor destacou que a senadora não só entende de agronegócios como tem sido firme na defesa de seus interesses.
Essa postura, lembrou a fonte, não se via desde que Kátia Abreu arrebatava corações e mentes como senadora eleita por Tocantins ou presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que presidiu antes de assumir o Ministério da Agricultura no governo Dilma e ver sua imagem entre as lideranças rurais sofrer arranhões tão profundos que ainda cicatrizam, lentamente.
Ana Amélia Lemos nasceu em Lagoa Vermelha (RS) em março de 1945. Formada em Comunicação Social - Relações Públicas e Propaganda na PUC-RS, trabalhou como jornalista e começou a se tornar conhecida pelo setor como colunista e comentarista do Grupo RBS em Brasília. Foi casado com o senador Octavio Cardoso, fazendeiro (1930-2011).Acostumada a transmissões ao vivo, não titubeia em discursos e costuma se preparar para não ser pega de surpresa nos debates sobre as mais diversas cadeias produtivas do campo, diante das quais sempre demonstra respeito, independentemente de concordar ou não com suas eventuais demandas.
A política gaúcha chegou ao Senado em 2011. Participa da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e da Comissão de Relações Exteriores, entre outras com relação com o agronegócio. Também de olho nos interesses do setor, participou da subcomissão temporária Fórum Mundial da Água. Um veterano líder ruralista observa que, ainda que tenha uma agenda variada de eventos e projetos, sobre diversos setores, o fato de Ana Amélia sempre olhar com atenção para o agronegócio e estar atualizada sobre suas questões justificam a admiração setorial, ainda que, para ele, a senadora muitas vezes exagere na verve e se mostre inflexível em discussões.
Entre outros projetos de autoria da senadora aprovados nos últimos anos está o PLS 354/2014, que estabeleceu procedimentos menos burocrático para a renegociação de dívidas com crédito rural, e entre os projetos que apresentou está o PLS 463/2017, que inclui derivados de produtos perecíveis de origem vegetal na política de preços mínimos. Entre as leis de autoria de Ana Amélia está a que criou um marco regulatório para a cadeia produtiva de integração agropecuária.
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