quinta-feira, 26 de julho de 2018

Bernardo Mello Franco: A comédia dos vices

- O Globo

Primeiro ele convidou um dublê de senador e cantor gospel. Depois, um general de pijamas. Em seguida, a advogada que prometeu acabar com a “República da Cobra”. A novela dos vices de Jair Bolsonaro já parecia suficientemente bizarra. Agora entraram na dança um príncipe e um astronauta.

Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o bolsonarista de sangue azul, sonha com a restauração da monarquia. Se não der certo, pode aceitar um cargo na linha sucessória da República. Enquanto não é convocado, ele produz vídeos para o Facebook. Há três dias, informou aos plebeus que está escrevendo uma nova Constituição.

Marcos Pontes, o cosmonauta brasileiro, parece fazer planos mais modestos. Depois de viajar de foguete, passou a ganhar a vida com palestras motivacionais. Agora quer trocar seus dez dias no espaço por quatro anos no Jaburu.

Bolsonaro não é o único presidenciável sem vice. A dois meses da eleição, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva também penam para compor suas chapas. Entre recusas e desistências, ninguém consegue parceiro para concorrer ao Planalto.

Ciro já ofereceu a vaga aos conservadores do centrão e aos socialistas do PSB. O ex-ministro promete revogar a reforma trabalhista, mas também topa dividir chapa com Benjamin Steinbruch. O industrial já propôs coisas que nem o atual governo ousaria, como limitar o intervalo de almoço dos operários a 15 minutos.

Alckmin tentou se aliar a Josué Gomes, que também foi cotado para vice de Lula, Ciro e Flávio Rocha. O empresário fez charme, mas não subiu ao altar. Agora o tucano busca outra noiva no centrão. Entre os cotados, estão o privatista Mendonça Filho e o comunista Aldo Rebelo.

Na campanha de Marina, tudo anda a passos de tartaruga. Não seria diferente com a definição da chapa. Sem alianças, ela deve improvisar uma solução caseira. Estão no páreo o presidente do Flamengo, que nunca foi político, e um deputado federal de onze mandatos.

A comédia dos vices seria mais engraçada se o cargo fosse apenas honorífico. No Brasil, não é. Dos últimos sete presidentes, três chegaram ao poder sem votos, depois da morte ou da cassação do titular. Foi o caso de Michel Temer, aquele que não queria ser “decorativo”.

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