- Valor Econômico
Selic sobe após eleição; lucro das empresas deve cair
Inflação mais pressionada, encerramento do ciclo de flexibilização monetária nos Estados Unidos, crescente protecionismo comercial e choque na oferta de petróleo são variáveis que justificam a piora do equilíbrio de riscos na economia global e a queda do interesse dos investidores internacionais por ativos financeiros de mercados emergentes observada nos últimos quatro meses. O Brasil está inserido nesse contexto, mas tem a administrar os seus próprios pesadelos.
Após um primeiro trimestre mais fraco - com o Produto Interno Bruto (PIB) em alta de 0,4% ante 1% esperado por analistas -, os dados econômicos ensaiaram melhora em abril. Mas quase certamente essa melhora será neutralizada pelos efeitos negativos da greve dos caminhoneiros que parou o país.
A greve poderá afetar, inclusive, o resultado da eleição presidencial, na avaliação do estrategista do UBS Wealth Management, Ronaldo Patah. Em entrevista à coluna, ele afirma que perspectivas mais sombrias para a economia já tiveram impacto sobre os brasileiros que irão às urnas. E informa: a grande maioria dos brasileiros acredita que a "economia piorou" em relação a meses atrás e pretende votar em um "líder forte com vontade de mudar" o status quo.
"As chances de um candidato reformista chegar ao segundo turno da eleição presidencial são agora menores do que eram antes da greve", afirma. O cenário base do UBS tem agora 60% de chance de que o próximo presidente seja um "quase reformista". Isto é, alguém sem forte convicção sobre as reformas que devem ser feitas no país para consertar a economia.
Essa possibilidade, combinada ao elevado grau de incerteza no cenário global e local, incentivou o UBS Wealth a manter "neutra" a alocação tática em todas as classes de ativos do portfólio local, bem como a alocação para títulos denominados em dólares em sua carteira de ativos de países emergentes.
Em função da mudança de cenário, a instituição reduziu a projeção de crescimento do PIB brasileiro deste ano de 2,7% para 2,2%. E, por considerar que a paralisação dos caminhoneiros também teve efeito desfavorável na inflação - reflexo do aumento de custos de transporte e enfraquecimento do real -, o UBS elevou sua estimativa para a inflação ao consumidor em 2018 de 3,8% para 4,3%. As projeções para a taxa de câmbio passaram a R$ 3,70 ao fim de 3 meses, R$ 3,50 em 6 meses e novamente R$ 3,50 em 12 meses. As estimativas anteriores eram de, respectivamente, R$ 3,40, R$ 3,35 e R$ 3,30.
O estrategista do UBS diz ainda que o governo perdeu o colchão fiscal proporcionado pelas maiores receitas fiscais obtidas até agora neste ano. E estima que o impacto da greve dos caminhoneiros nas despesas do governo será próximo de R$ 10 bilhões. "Portanto, o ciclo econômico brasileiro enfrentará algumas fraquezas à frente", diz.
Patah avalia que o resultado da eleição presidencial "provavelmente" também será afetado pela paralisação dos caminhoneiros que disseminou o sentimento de que a economia piorou. O estrategista do UBS cita a última pesquisa Datafolha, que entrevistou 2 mil eleitores em todo o país na primeira semana de junho. Nela, 72% dos eleitores afirmaram que "a economia piorou" nos últimos meses - e 75% dos entrevistados disseram que votarão em um "líder forte disposto a mudanças". Há três meses, 48% dos pesquisados pelo Datafolha demonstravam essa intenção.
"Esse sentimento vai na direção oposta do nosso cenário-base definido no início do ano em que argumentamos que a recuperação econômica do Brasil seria um dos principais fatores que levariam um candidato de perfil reformista ao segundo turno de votação", conta o executivo. "Agora, não apenas esse fator desapareceu, mas se tornou negativo. Até arriscamos dizer que os eleitores brasileiros provavelmente avaliam que a economia está pior agora do que era antes do impeachment de Dilma Rousseff em 2016, embora essa percepção nos pareça equivocada."
A probabilidade de um candidato reformista disputar o segundo turno da eleição é de 40%. O cenário-base do UBS apresenta 60% de chance de o próximo presidente brasileiro ser um "quase reformista".
Essa nova perspectiva tem consequências que podem ser potencializadas pelo cenário externo. Patah pondera que a volatilidade no mercado local permanecerá alta nos próximos quatro meses, até o fim da eleição em 28 de outubro.
"Se o segundo turno se resumir a uma competição entre um 'quase' e um 'anti' reformista, acreditamos que o 'quase reformista' prevalecerá", diz o estrategista. Contudo, a despeito do quão reformista será o vencedor nas eleições, o UBS Brasil mantém sua opinião de que ele vai propor e conseguir a aprovação do projeto de reforma da Previdência antes do fim do primeiro semestre de 2019.
Ao partir do princípio de que a incerteza econômica permanecerá elevada no Brasil, Patah defende que a melhor estratégia de investimento, por enquanto, é manter os portfólios bem diversificados, evitando uma forte concentração em qualquer classe de ativos e permanecer paciente até que uma oportunidade mais clara apareça. O estrategista lembra que o Copom decidiu manter a Selic inalterada em 6,5%, ratificando as expectativas do mercado, e que todas as projeções do BC para a inflação ainda estão abaixo da meta de 4,5%. O UBS acredita que o BC manterá o juro estável pelo menos nos próximos três meses, e considera significativa a possibilidade de a Selic ser elevada após a eleição em decorrência de expectativas mais altas de inflação.
O nível atual dos títulos prefixados locais de maior duração estão oferecendo juros atraentes, diz o UBS. O medo da situação fiscal e a depreciação cambial ligada à onda de aversão ao risco nos mercados globais, somadas às incertezas locais, impedem que parte do mercado corra esse risco, portanto, a inclinação da curva é a mais alta em 15 anos. Mas a posição se mantém 'neutra'.
Desde que o UBS decidiu reduzir a 'neutro' o portfólio de ações, o Ibovespa caiu 16%. A bolsa segue 'neutra'. O banco não considera atraente o atual nível de preços e elevadas as projeções de aumento de lucro de 12% a 15% em 2018.
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