segunda-feira, 2 de julho de 2018

Fernando Limongi: Mata-mata

- Valor Econômico

Negociações para alianças entram em sua fase final

Durante a semana, as negociações para a formação de coligações ganharam intensidade. Sob a pressão do calendário eleitoral, os candidatos intensificaram os contatos, pois o limite para acertar os acordos acaba na primeira semana de agosto.

Um aspecto essencial dessa definição é a articulação entre os dois planos da disputa, o nacional e o estadual. Uma candidatura presidencial forte se estrutura a partir dos palanques com que conta nos Estados. O inverso também tende a ser verdade, isto é, candidatos fortes aos governos estaduais precisam se alinhar a candidatos viáveis à presidência.

Para por as coisas de uma forma diferente: nenhum partido brasileiro lança candidato à presidência e a todos os governos estaduais. Para vencer, é preciso concentrar forças e recursos, fazendo acordos que envolvem a troca de apoios. Por meio dessas negociações e acordos se reduz o número de candidaturas viáveis oferecidas aos eleitores, tanto na disputa presidencial quanto nas estaduais.

Em geral, em cada estado, somente duas ou três grandes coligações apresentam candidaturas competitivas ao governo. Nas últimas eleições, salvo raras exceções, as coligações viáveis foram comandadas por quatro partidos, a saber, PT, PSDB, MDB e PSB.

Dadas as inúmeras peculiaridades dessa eleição, as negociações para formar coligações travaram. A indefinição do PT, sem dúvida alguma, contribuiu de forma decisiva para o atraso. Todos aguardam a definição do competidor mais forte. E o competidor mais forte está preso e não poderá ser candidato. O partido de Lula insiste nele e resiste a indicar seu vice ou um provável sucessor.

Tirar Lula da prisão e garantir sua candidatura passou a ser o único objetivo do PT. Tudo gira em torno do ex-presidente ou passa por ele. Não há um negociador autorizado sequer e todos aguardam ansiosamente as diretivas do líder que, por enquanto, precisam ser deduzidas por recados e notas que envia desde o cárcere.

Lula não quer indicar seu sucessor porque sabe que, tão logo o faça, perderá poder e, assim, esticou a corda e estendeu a paralisia aos candidatos petistas ao governo.
Não por acaso, os governadores do partido são os únicos a pressionar pela definição que, até o momento, não veio. O resultado da estratégia é o isolamento. Ou melhor, os demais partidos foram levados a ignorar o PT.

O PSB é outro que demorou a entrar em campo, paralisado pela indecisão de seu candidato potencial, Joaquim Barbosa. Com a desistência do ex-ministro, o partido não tem como bancar todos seus candidatos potenciais aos governos estaduais. Por isso, o partido começou a tratar de sua política de alianças e da definição dos candidatos que receberão os recursos do Fundo de Desenvolvimento da Democracia (FDD). Isso é, alguns terão de se sacrificar para preservar as chances de vitória dos demais. A decisão, como se deve imaginar, não é fácil e tem dado lugar a negociações intermináveis. Pelas últimas notícias, fala-se em algo como 11 candidatos do partido ao governo, incluindo, pela primeira vez, candidaturas em Minas e São Paulo.

Por essas características, por ter se retirado da disputa presidencial e ter candidatos competitivos em um bom número de estados, o PSB se tornou o aliado ideal de qualquer pré-candidato à presidência. Por isso mesmo foi cortejado por Lula, Geraldo Alckmin, Marina Silva e Ciro Gomes. Pelo noticiário, todos os pretendentes, exceção feita ao candidato do PDT, já foram rejeitados.

Como seu partido não tem candidatos fortes a governos estaduais, para Ciro Gomes um acordo com o PSB parece mais do que apropriado, para não dizer necessário. Entretanto, nas últimas semanas, pelo que a imprensa noticiou, o candidato dirigiu seus esforços para obter os apoios do DEM e do PP. O que não se sabe é se já deu como certo o apoio do PSB ou se, ao contrário, já o descartou.

O PSB parece ter roubado o papel que cabia ao MDB nas eleições passadas. A força proverbial do partido dependeu de sua capacidade de priorizar as disputas estaduais. A hábil política de alianças do MDB garantia candidaturas fortes em vários estados, preservando suas bancadas na Câmara e Senado. Esse ano, o MDB acabou tão isolado quanto o PT e mesmo desprezado como aliado. Por certo, o pragmatismo regional ainda lhe garantirá força, mas, provavelmente, não tão grande quanto no passado. No Rio de Janeiro, sua principal base nas eleições passadas, seu destino já está traçado: quem se livrou da prisão, trocou de partido.

Jair Bolsonaro e Marina Silva, pelos sinais captados pela imprensa, se deram conta de que o isolamento não os levará muito longe. Ambos saíram à caça de aliados para aumentar o tempo do horário eleitoral de que disporão. Bolsonaro corteja o PR, enquanto Marina procurou o PROS. Mas isso só resolverá parte de seus problemas, pois ambos carecem de palanques estaduais, isso é, de candidaturas fortes aos governos para armar suas campanhas estaduais.

Desde que Marconi Perillo assumiu o comando das negociações, o candidato do PSDB intensificou seus contatos e retomou conversas com o DEM e o PSD para montar coligação. A seu favor, pesa o bom número de candidaturas próprias do partido e alguns acordos já firmados. A despeito dessa estrutura nacionalizada, as dificuldades de sua candidatura persistem.

Das próximas semanas não passa. As candidaturas e coligações devem ser fechadas até o final do mês. Do encaixe das peças nacionais e estaduais emergirão as candidaturas viáveis e somente aí o jogo para valer vai começar. A fase de grupos chegou ao final. Terá início o mata-mata.
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Fernando Limongi é professor do DCP/USP e pesquisador do Cebrap.

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