segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ao lançar candidatura, Paes ignora ex-aliados incômodos e diz priorizar Segurança

Com ex-desafetos, Paes ignora Lava-Jato e diz que segurança é prioridade

Candidato ao governo do Rio, ex-prefeito afirmou que não pretende 'falar mal de ninguém' durante a campanha

Waleska Borges | O Globo

RIO - O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes foi confirmado pelo DEM como candidato ao governo do estado na manhã deste domingo. O anúncio ocorreu durante a convenção do partido na sede da legenda no Rio, na Barra da Tijuca. O ex-prefeito Cesar Maia, padrinho político de Paes nos anos 1990 e seu antigo desafeto, além o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara, estiveram no evento. Não foi anunciado o nome do candidato a vice de Paes.

Durante o seu discurso de 21 minutos na convenção, Paes não falou sobre corrupção ou sobre a Lava-Jato, que levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral, seu ex-aliado. Questionado quanto aos escândalos que envolveram seu ex-partido, o MDB, o candidato disse responder pelos seus atos: "meu CPF é outro". Paes mudou de partido para ser candidato ao Palácio Guanabara. O ex-secretário municipal de Obras de Eduardo Paes, Alexandre Pinto, está preso. Ele é suspeito de pedir 1% do valor das obras como propina.

— Ao longo da minha vida pública, busquei agir com correção no meu governo. Acho que esse é um tema que é premissa de qualquer governo. A gente precisa rediscutir os sistemas de governo brasileiro. Eles têm se mostrado extremamente ineficazes — disse Paes, ao ser questionado sobre a ausência do assunto corrupção no seu discurso.

O escolhido para compor a chapa do DEM ao governo do Rio já esteve em seis legendas. Surgiu no PV e passou para o PFL. Fez oposição com duras críticas ao governo Lula na CPI dos Correios. Depois, foi candidato pela base aliada de Lula MDB. Paes foi prefeito do Rio por dois mandatos consecutivos, entre 2009 e 2016. Ao lado de Cabral e do presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani, integrou o MDB fluminense por dez anos. Também deu apoio ao governador Luiz Fernando Pezão (MDB). "Ninguém aqui tem vergonha do que já fez, do que foi", disse o candidato.

Paes falou de segurança pública e recuperação de finanças do Estado do Rio como suas principais bandeiras:

- Nos temos duas crises bastante profundas. Uma é fiscal. Se a gente não tiver a casa arrumada, caixa em condições, dificilmente você consegue recuperar o básico do estado, serviços essenciais chamado de feijão com arroz. Há uma crise profunda na segurança, que está sob intervenção, o governador vai ter que assumir o comando dessa questão como sua principal missão. Com essas duas questões você consegue retomar o caminho do desenvolvimento do estado.

O candidato disse que, se eleito, mesmo após o fim da intervenção, contará com as Forças Armadas.

- No caso da segurança pública, há uma necessidade de comando do governador. A retomada dos territórios. Isso podemos fazer com as forças de segurança do estado e sem deixar de ter o apoio das Forças Armadas desenvolvendo uma nova forma de policiamento que permita devolver a paz para o cidadão fluminense - adiantou Paes.

O ex-prefeito disse ainda que não pretende "falar mal de ninguém" durante a campanha e que vai "trabalhar olhando para frente".

Desafeto de longa data do ex-prefeito Cesar Maia, Paes dividiu palanque com o candidato a senador pelo Rio. A convenção foi aberta por Cesar, que discursou para uma plateia de cerca de 500 pessoas. Falou que, nos últimos anos, "houve certa omissão" dos senadores do estado no acompanhamento da situação tributária. Deu conselhos aos candidatos a deputados.

Depois de discursar por cerca de 40 minutos, enquanto Paes e Rodrigo não chegavam, Cesar Maia ficou sentado em uma cadeira no palanque durante a fala de ambos. Maia levantou-se apenas uma vez e interrompeu Paes para falar da eleição de 1998 quando foi candidato a governador. Maia pegou o microfone e disse: "Nós perdemos para governador, mas ganhamos para deputado".

Paes fez questão de elogiar o antigo desafeto que, apenas ao final, levantou-se da cadeira para dar as mãos e posar para as fotos junto dos outros candidatos. Maia era o único que não usava o adesivo da campanha do Paes no peito.

No banner da campanha de Paes, foi apresentado o slogan "Um homem com a força do Rio". Citou "o velho Brizola" ao falar sobre educação. Também disse que vai priorizar a população mais pobre e sofrida.

Rodrigo Maia disse que Paes é "o melhor candidato com a melhor experiência":

- O Rio está precisando de políticos que tenham compromisso com a refundação do estado. Tenho certeza que o Eduardo pelos oito anos que passou na prefeitura está preparado. Tanto no ponto de vista da gestão como da capacidade política.

Sobre as alianças, Maia disse que será feita uma reunião na noite deste domingo, mas adiantou que "haverá um arco de aliança muito forte".

- Estamos conversando com PSDB, PR, PP, Solidariedade, PMDB, PTB, PHS.

O final do evento foi encerrado com uma música do grupo de pagode Raça Negra que o trecho diz "Então volta, traz de volta o meu sorriso".

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