segunda-feira, 30 de julho de 2018

Paes lança candidatura ao governo do Rio sem atacar corrupção de ex-aliados

'Ninguém tem vergonha do que fez', diz ex-prefeito em ato

Italo Nogueira | Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - Tentando suceder um governador investigado, e um ex-governador preso, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (DEM) oficializou neste domingo (29) sua candidatura ao governo sem atacar em discurso a corrupção no estado.

Aliado por dez anos de Sérgio Cabral (MDB), atualmente preso, Paes afirmou que não fará uma campanha “olhando para trás”.

“Ninguém aqui tem vergonha do que já fez, do que foi”, afirmou ele, em convenção do DEM-RJ num auditório na Barra da Tijuca (zona oeste).

O ex-prefeito focou os 21 minutos do discurso na retomada de investimentos, recuperação da capacidade financeira do estado e melhorias na segurança pública. Não mencionou nenhuma vez a palavra “corrupção”.

Além da aliança com Cabral, o ex-prefeito será alvo de ataques na campanha pela prisão do ex-secretário de Obras de sua gestão, Alexandre Pinto. Ele confessou ter recebido propina de empreiteiras enquanto comandava as inúmeras obras na cidade. As investigações já divulgadas não apontam envolvimento do Paes no caso.

“Busquei agir com correção no meu governo, e nas minhas ações. Esse é um tema que é premissa de qualquer governo. A gente precisa rediscutir os sistemas de controle brasileiros. Eles têm se mostrado extremamente ineficazes”, afirmou Paes em entrevista, ao ser perguntado sobre a ausência do assunto em seu discurso.

Também pesa contra o ex-prefeito o apoio dado para a eleição do governador Luiz Fernando Pezão (MDB), investigado pela Procuradoria-Geral da República e à frente de uma administração rejeitada.

“Quando você tem uma perda de liderança e comando, e isso vinha acontecendo, não é uma coisa recente, é óbvio que isso estimula e amplia a crise que a gente vive”, disse o ex-prefeito, também em entrevista, quando questionado sobre os efeitos da corrupção nas finanças do estado.

O candidato do DEM também foi citado como destinatário de caixa dois da Odebrecht em delação de executivos da empresa. Esse caso foi retirado das investigações no âmbito da Lava Jato. Ele nega ter recebido recursos ilegais.

A confirmação de sua candidatura ocorreu após uma longa indefinição pública sobre as intenções políticas de Paes nesta eleição. Ele saiu do MDB em março e foi para o DEM para tentar fugir da associação com a sigla marcada pela corrupção no estado.

O ex-prefeito fez, assim, sua quinta troca de partido desde que iniciou na política, há 26 anos. Ele afirmou que, no atual cenário, essa trajetória pode ser benéfica.

“Sempre fiz alianças. Não sou exatamente a pessoa mais partidária do mundo. Isso era uma crítica que faziam a mim, agora pode até caber como elogio”, afirmou.

Paes foi eleito e reeleito prefeito defendendo a aliança política com o então governador Cabral e os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT). Ele reeditou a defesa na boa relação institucional ao afirmar que procurará trabalhar bem, se eleito, tanto com os presidenciáveis Guilherme Boulos (Psol) como com Jair Bolsonaro (PSL).

A troca de partidos o colocou de volta ao lado do vereador César Maia (DEM), candidato ao Senado. Paes iniciou sua trajetória política ao lado do ex-prefeito, mas se afastou ao aderir ao grupo de Cabral.

Sem jingle definido, a convenção que oficializou Paes foi finalizada com a música “Volta”, do grupo de pagode Raça Negra, cujo refrão diz: “Então volta / Traz de volta meu sorriso / Sem você não posso ser feliz”.

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