A fragmentação no Congresso continuará, daí as dificuldades adicionais para as reformas
Os partidos têm até domingo para definir alianças e confirmar candidaturas às eleições de outubro. Seria desejável que, a apenas nove semanas da votação, o horizonte político estivesse menos nebuloso, pautado pelo debate de propostas sobre a condução do país a um ciclo de desenvolvimento.
Até agora, porém, a maioria dos candidatos à Presidência parece exercitara retórica como arte de ocultar pensamentos. Como fatos não deixam de existir somente porque são ignorados, restam algumas certezas. Uma delas é que, em janeiro, haverá no Planalto alguém eleito em circunstâncias de fragilidades.
O próximo presidente deverá contar com menos apoio no Congresso do que seus antecessores, num ambiente de extrema fragmentação político-partidária.
Corre risco devir a percorrer 75% do mandato gerenciando contas públicas no vermelho. Porque o endividamento é recorde (próximo de 85% do Produto Interno Bruto), a capacidade de investimento estatal está reduzida à metade, e as despesas na Previdência tendem a ser 30% maiores do que são hoje.
Assiste-se, no entanto, a vários candidatos, principalmente os de esquerda, arrogando-se o direito aos próprios fatos, em negação da realidade. Há até quem negue o déficit nas contas da Previdência.
Alguns anunciam planos para “revogar” fundamentos da Constituição, privatizações, legislação trabalhista e de equilíbrio fiscal, como o limite a aumento dos gastos e das dívidas. Defendem a quebra de contratos estatais na exploração de petróleo e ameaçam acordos empresariais como o negociado entre Embraer e Boeing.
Poucos são os que se propõem a enfrentar a crise com racionalidade, em defesa do reequilíbrio orçamentário, de critérios de eficiência no gasto, da meritocracia no serviço público, das privatizações onde são necessárias, assim como uma reforma criteriosa da Previdência também para melhor distribuição da renda, e reforma tributária para liquidar a insana relação do Estado com os seus contribuintes.
Como a campanha mal começou, há espaço para esperança de moderação, lucidez e construtivismo na propaganda eleitoral na TV e no rádio, no final do mês. Poderiam ajudar a motivar um eleitorado resiliente na indiferença, que nas pesquisas reitera disposição ao não voto.
Até porque todos sabem que o futuro governo não vai emergir das urnas sobre uma base parlamentar com votos suficientes (308 deputados e 49 senadores) para realizar algumas promessas eleitorais vagas, que dependem de mudanças na essência da Constituição. A atual oferta de ilusões populistas, portanto, tende a resultar no contrato de uma crise de contornos mais graves a partir de janeiro.
Ainda há tempo. Nossa história é pródiga em exemplos sobre como encontrar na política saídas para crises aparentemente insuperáveis. Foi assim com a hiperinflação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário