Os investimentos diretos no país (IDP) caíram no primeiro semestre, devido à quase ausência de grandes operações. As incertezas econômicas e políticas deste ano eleitoral provavelmente estão levando ao adiamento de planos de multinacionais que pretendem ingressar ou aumentar a sua presença no país. Mas os atrasos na agenda de concessões e privatizações também contribuíram para a queda do fluxo de capitais estrangeiros de boa qualidade ao Brasil.
Dados divulgados pelo Banco Central na semana passada registram um ingresso líquido de US$ 29,878 bilhões de investimentos diretos no país no primeiro semestre de 2018, o que significa uma queda de 17,5% em relação ao volume apurado em igual período do ano passado.
O desempenho mais fraco fez o Banco Central rever as suas projeções para o investimento direto. Inicialmente, a aposta era que pudesse ocorrer uma aceleração, dos US$ 70,7 bilhões apurados em 2017 para US$ 80 bilhões em 2018, em virtude da expectativa de uma retomada mais firme da economia e de uma execução mais acelerada do programa de concessões e privatizações.
Agora, o BC prevê que os investimentos diretos fiquem estáveis, em US$ 70 bilhões, neste ano. Dado o ingresso mais fraco de IDP apurado no primeiro semestre, essa projeção parece otimista. Se for mantido o fluxo médio mensal dos seis primeiros meses do ano, os aportes devem chegar, no máximo, a US$ 60 bilhões neste ano. Os analistas econômicos privados consultados na pesquisa Focus de expectativas de mercado, conduzida pelo BC, já reduziram para US$ 67,5 bilhões a sua projeção de entradas para 2018.
Sob o ponto de vista do financiamento do balanço de pagamentos, ingressos de IDP nesse patamar são mais do que suficientes. O déficit em conta corrente acumulado no período de 12 meses até junho equivale a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), menos do que um quarto dos investimentos diretos, que representam 3,25% do PIB no período. O problema é que, com a queda dos investimentos diretos, o Brasil está recebendo menos capitais estrangeiros que poderiam alavancar a sua capacidade de crescimento sustentado.
Em grande medida, os fracos ingressos de investimentos diretos se devem à queda no número de grandes operações. Dados do balanço de pagamentos mostram que, no primeiro semestre, houve apenas uma operação de investimento direto superior a US$ 1 bilhão - de exatamente US$ 1,038 bilhão. No primeiro semestre de 2017, as grandes operações somaram US$ 7,986 bilhões. Esses grandes projetos de investimentos são justamente aqueles que assumem mais riscos e têm mais impactos para alavancar o crescimento da economia brasileira.
Vários fatores explicam a queda do IDP. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) indicou que pode subir os juros um pouco mais rápido, o que levou a uma redução no volume de capitais disponíveis para as economias emergentes. As empresas estão mais cautelosas durante o período eleitoral, dado o risco de que o próximo presidente não leve adiante a agenda de reformas essenciais para dar sustentabilidade às contas públicas. A demora nas privatizações e concessões é outro fator que desestimula o ingresso desses capitais produtivos no país
Os progressos são palpáveis no setor de petróleo, embora esteja ainda pendente o leilão dos excedentes de cessão onerosa; em energia elétrica, houve avanços consideráveis nas concessões de linhas de transmissão. Mas o governo promete o primeiro leilão de rodovias apenas para dezembro; o modelo para as concessões de ferrovias não está fechado, embora mantenha-se para este ano o compromisso de licitar a Norte-Sul e de renovar antecipadamente a concessão de três outras ferrovias; o governo desistiu de privatizar a Eletrobrás e a Casa da Moeda, e o leilão de loterias acabou em fracasso.
O fluxo de investimentos diretos das últimas décadas foi impulsionado, em grande medida, pelas privatizações iniciadas, de forma tímida, ainda no governo Sarney. No caso das telecomunicações, por exemplo, houve ingressos de capitais estrangeiros não apenas com a venda de controle, mas nos anos seguintes, quando ocorreram investimentos de vulto para modernizar o setor. Os próximos surtos de investimento direto dependerão fundamentalmente de estabilidade macroeconômica e da aceleração do programa de concessões e privatizações.
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