- O Estado de S.Paulo
Tentação em desconstruir o perfil e o caráter dos rivais pode ser grande
Passadas as convenções partidárias, que definiram as alianças entre partidos e presidenciáveis e também os nomes a vice de cada chapa, os investidores começaram a semana com o sentimento mais otimista em relação à eleição presidencial desde que, em janeiro deste ano, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-o inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
Isso porque, para o mercado, o balanço das convenções foi o de que o candidato tucano Geraldo Alckmin saiu vitorioso, enquanto Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) tiveram um saldo negativo ao não conseguirem atrair apoio de peso de outros partidos nem nomear vice-presidentes com cabedal político para garantir um lugar no segundo turno.
Nesta quinta-feira, 09, começam os debates na TV com os principais candidatos à eleição presidencial. Com mais de um terço do eleitorado ainda sem saber em quem votar, incluindo aí os votos brancos e nulos, a tentação pode ser grande para focar a campanha apenas em desconstruir o perfil e o caráter dos rivais.
Mas o que os presidenciáveis pretendem fazer para retomar o crescimento da economia e corrigir os desequilíbrios atuais? Apresentar desde já uma plataforma de governo com mais detalhe poderá conquistar os votos de indecisos?
“Pouco ou nada se sabe, ao menos no detalhe, o que é típico das nossas campanhas. E isso não deve mudar nem mesmo mais à frente”, diz um experiente economista paulista. “Ninguém vai correr o risco de detalhar algo, pois há uma assimetria: um detalhe pode gerar perdas de votos, mas dificilmente vai arrebanhar algum. O nosso eleitor médio não tem demanda por tal detalhamento.”
Um economista-chefe de uma grande corretora acredita que se, de um lado, Bolsonaro, que lidera a corrida presidencial nos cenários sem o ex-presidente Lula, não tenha incentivos para detalhar desde já o que pretende fazer em temas como reformas – em particular as da Previdência e tributária –, de outro, ao explicar o que fará na economia para reconquistar a confiança de empresários, investidores e consumidores, Alckmin poderá arrebatar a preferência do eleitor mais moderado que flerta hoje com outros candidatos.
“É de se esperar que, até o primeiro turno, o eleitor saiba mais em detalhe qual será a política econômica apenas de Alckmin e o que ele pretende fazer, por exemplo, com a reforma da Previdência”, argumenta a fonte acima. “No caso de Bolsonaro, as análises de Paulo Guedes (responsável pelo programa econômico do candidato do PSL) são mais retroativas e pouco propositivas. E quando fala em propostas, ele é bastante vago.”
Já o programa do PT para a economia utilizou uma sinalização forte voltada apenas para agradar os militantes, prometendo rever medidas aprovadas no governo Michel Temer.
“O que o PT vai fazer na economia é um mistério, pois não dá para dizer que o candidato petista, quando eleito, fará na economia o que sinaliza agora para os militantes”, diz o economista. Da mesma maneira vem agindo Ciro Gomes, adotando uma retórica mais radical para os eleitores de esquerda e deixando para Mauro Benevides Filho, seu assessor econômico, a tarefa de aparar arestas com os investidores.
Na falta de detalhes sobre plataformas de governo, o que poderá movimentar o humor do mercado no curto prazo?
“Lula ainda é uma casca de banana para o mercado”, diz renomado economista de um grande banco estrangeiro. É bom lembrar que, além das decisões judiciais acerca da candidatura do PT, restam dúvidas se o partido vai acerta o “timing” de substituir o nome de Lula por Fernando Haddad, hoje seu vice.
Para o economista, o mercado ainda precisa ver Alckmin subindo nas pesquisas de intenção de voto. “Leva mais algumas semanas até isso, provavelmente após o início na propaganda eleitoral na TV, mas nesse meio tempo qualquer subida consistente - acima da margem de erro - será celebrada.”
Além de decisões judiciais envolvendo Lula e pesquisas mostrando avanço de Alckmin, outras notícias podem mudar o quadro eleitoral radicalmente: se Ciro desistir da candidatura e fechar aliança com outro partido; se Alvaro Dias (Podemos) abrir mão de concorrer e apoiar outro candidato; ou se Bolsonaro registrar uma desidratação nas intenções de voto à la Marina Silva (Rede) em 2014, quando ficou de fora do segundo turno nos últimos momentos. Por enquanto, esses cenários são considerados improváveis no radar do investidor.
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