No primeiro encontro com Fernando Haddad após o anúncio da aliança entre PT e PCdoB, Manuela D’Ávila disse que os dois estão preparados para vencer a eleição “em qualquer cenário”, inclusive sem Lula, evidenciando o que os próprios petistas já chamam de “estratégia tríplex”.
A estratégia tríplex: PT nega plano B, mas aliados já admitem cenário sem Lula
Sérgio Roxo | O Globo
SÃO PAULO / Embora rejeite a existência de um plano B para a disputa presidencial, o próprio PT já executa o que seus próprios dirigentes chamam, ironicamente, de estratégia tríplex, que envolve Fernando Haddad (PT), Manuela D‘Ávila (PCdoB) e Lula, preso e com requisitos para ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Em uma frente, a defesa do ex-presidente se vale de prazos e recursos judiciais para retardar a declaração de inelegibilidade. Por outro lado, a própria Manuela já reconhece que o cenário da disputa presidencial pode se consolidar sem a presença do líder petista.
A declaração de Manuela bate de frente com a estratégia adotada pela direção do PT de tratar publicamente a pré-candidatura de Lula como única opção do partido. A sigla nega que a escalação de Haddad como vice tenha deflagrado a construção de um plano B para a eleição.
—É um acordo em que nós do PCdoB ocuparemos a vaga de vice em qualquer um dos cenários. Eu torço para que, em 1º de janeiro, a Justiça decida que eu tomarei posse como vice-presidente da República com Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência, mas eu e o Haddad estamos prontos para vencer a eleição em qualquer cenário — afirmou Manuela ontem, em seu primeiro pronunciamento após a retirada de sua pré-candidatura.
Ao seu lado, Haddad, que será registrado como vice da chapa petista no dia 15 de agosto, não fala sobre o quadro em que Lula não esteja no comando da chapa. No discurso oficial petista, a estratégia tríplex prevê o ex-prefeito como uma espécie de vice-tampão:
—Eu estou representando o presidente Lula como candidato a vice-presidente. Assim que ele (Lula) tiver a sua candidatura homologada, nós vamos estender o tapete vermelho para Manuela ocupar o meu lugar.
Para não criar rejeição ao seu nome no PT, Haddad tem seguido à risca a linha adotada pela direção da legenda e tem evitado qualquer declaração em que cogite a hipótese de se tornar o candidato a presidente.
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Questionado sobre as diferenças de abordagem sobre o mesmo tema, o coordenador da campanha, o petista José Sérgio Gabrielli, reconheceu que existe a chance de Lula não estar na urna na eleição do dia 7 de outubro:
— A possibilidade de impugnação existe, mas vamos lutar contra isso.
Apesar de Haddad ter entre as suas missões “vocalizar” as ideias de Lula, o PT não pretende pedir que o ex-prefeito participe do debate da TV Bandeirantes, amanhã à noite. A ideia no partido é fazer um debate paralelo no mesmo horário nas redes sociais.
O pedido de participação de Lula foi negado, na segunda-feira, pelo Tribunal Regional Federal da 4º Região (TRF-4) sem apreciar o mérito do pedido. O entendimento é que o caso deveria ser avaliado pela 1ª instância.
Segundo Gabrielli, não existe chance de que seja feito um pedido para Haddad representar Lula no programa de quinta-feira.
— O candidato é o Lula. A ata da convenção foi registrada. Ele não é mais pré-candidato, é candidato — afirmou o petista.
Se ocorrer o debate paralelo, a proposta em discussão é que Haddad e talvez também Manuela comentem as respostas que os adversários apresentarem no programa da Bandeirantes.
Gabrielli revelou que o PT negocia com a emissora para que a cadeira reservada a Lula seja colocada no estúdio com o seu nome.
— Nós pedimos a presença do Lula. Se negarem, é cadeira vazia —afirmou.
O coordenador da campanha cogita até entrar na Justiça Eleitoral para forçar a emissora a exibir a cadeira de Lula na televisão.
Na entrevista coletiva, Manuela lamentou não ter conseguido mais aliados e disse que nunca fez questão de estar na chapa. Também afirmou que aceitou a aliança com o PT por acreditar que essa é saída. Assim, ela teria mais chance de vencer a eleição deste ano.
—Algumas vezes, durante a pré-campanha, havia dito que gostaria de não fazer parte da chapa. Porque não fazer parte da chapa poderia significar uma candidatura com ainda mais unidade do nosso campo político.
A comunista fez ainda piada com o assunto que levou Lula para a cadeia.
—Já viu um meme que está circulando na internet em que nós somos o verdadeiro tríplex? — disse ela, referindo-se a uma chapa informal montada com Lula, Haddad e a própria Manuela D’Ávila.
Na noite de ontem, os petistas divulgaram nas redes sociais um vídeo em que convocam apoiadores a irem a Brasília no dia 15 para o registro da candidatura de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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