quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Bruno Boghossian: Abrindo as ‘caixinhas’

- Folha de S. Paulo

Até políticos que defendem Lava Jato admitem que é hora de discutir abusos

Entre tramas ardilosas e exaltações desmedidas, a campanha eleitoral começa a arranhar um debate sobre o trabalho de órgãos de investigação. Quatro anos após a estreia da Lava Jato, até políticos que sempre apoiaram a operação admitem que é hora de falar de excessos.

Em entrevista à Folha, a senadora Ana Amélia (PP) disse que, embora se considere uma “defensora intransigente” das apurações, é preciso evitar arbitrariedades. “Não pode haver supremacia. Temos que trabalhar nos limites das nossas competências e responsabilidades”, afirmou a vice de Geraldo Alckmin (PSDB).

Ana Amélia se notabilizou por advogar fervorosamente a favor da Lava Jato no Congresso e votou contra o projeto que cria punições para abusos de autoridade. Agora, diz que é preciso ter “muito cuidado”, citando o ex-reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier, que se suicidou após ser alvo de uma investigação controversa.

“O que aconteceu é um sinalizador. Chama atenção para não incorrermos no abuso de autoridade, porque isso é prejudicial à democracia”, diz.

O tema é espinhoso, mas aparece até quando menos se espera. Jair Bolsonaro (PSL) criticou excessos de promotores em um ato com prefeitos. “Fazem um bom trabalho? Em parte, sim, mas tem problemas. Qual prefeito aqui não fica com medo, preocupado com o Ministério Público? [...] Temos que mudar isso.”

Mais previsíveis são declarações como as de Ciro Gomes (PDT) sobre devolver o Judiciário e a Procuradoria para suas “caixinhas”, além da proposta do PT de mudar a forma de escolha dos integrantes de órgãos de fiscalização dessas instituições.

Alvaro Dias (Podemos), que não larga a bandeira da Lava Jato, disse a empresários que há risco de injustiças. “É inevitável aqui e acolá, mas certamente o resultado final interessa ao país”, afirmou.

Espera-se que o senador e seus colegas não tratem essas falhas como algo incontornável. Um Estado responsável deve ser implacável com a corrupção, mas também precisa ter coragem para corrigir seus erros.

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