Diante da incerteza eleitoral, que entrou no radar do BC, Copom decidiu não se comprometer com os próximos passos da Selic
Na reunião do Copom, os participantes se perguntaram se deveriam antecipar os próximos passos dando sinais sobre as futuras taxas de juros. Decidiram que não. Diante da incerteza eleitoral, que entrou no radar do Banco Central, eles optaram por não se comprometer com uma decisão que poderia ser alterada. Foi isso que o Copom disse na ata divulgada ontem, mais precisamente no parágrafo 24, de um total de 35, em que se conta a última reunião e a maneira como os diretores do Banco Central analisam a conjuntura.
Diz assim o parágrafo: “O Copom debateu, então, a conveniência da sinalização sobre a evolução futura da política monetária. Todos avaliaram que, na ausência de choques adicionais, o cenário inflacionário deve revelar-se confortável”. Até aqui, o que a ata diz é que, se nada acontecer de inesperado, a tendência será manter tudo como está, com a Selic de 6,5%. “Entretanto”, é aí que começa o recado, “o maior nível de incerteza da atual conjuntura gera necessidade de maior flexibilidade para a condução da política monetária, o que recomenda abster-se de fornecer indicações sobre os próximos passos da política monetária”.
O futuro, portanto, ao futuro pertence. Por isso o BC deu um sinal de que não dará sinais. Contudo, nos 23 parágrafos que antecedem, e nos 11 que se sucedem, há vários sinais. Primeiro de que há “evidências” de que o país está se recuperando da queda da atividade com a greve do setor de transportes e que os efeitos da inflação após a greve são temporários. Ou seja, só por aí já é sinal de nenhuma mudança na taxa de juros. Segundo, que, como a economia tem alto nível de capacidade ociosa, a inflação pode ficar até abaixo da previsão atual de 4,1%. Em toda a ata, aqui e acolá, há sinais de manutenção da taxa de juros, ainda que naquele parágrafo 24 o Banco Central se reserve o direito de ter “flexibilidade” e não se comprometer com decisão previamente.
Repetiu o que já virou um mantra nos documentos do Banco Central: se houver “frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas” isso pode elevar a inflação no futuro, ou, como eles dizem, “no horizonte relevante para a política monetária”. É uma forma indiretíssima de falar do cenário eleitoral, porque esse tal “horizonte relevante” é 18 meses, ou seja, já no próximo governo. E se o eleito ou a eleita não quiser ou não puder fazer ajustes nas contas públicas e reformas, isso afetará as expectativas e a inflação subirá.
Sobre o cenário externo, eles dizem que continua “desafiador”. Os riscos de mudanças das taxas de juros das principais economia e de isso afetar os fluxos de capital diminuíram, mas há possibilidade maior de perturbação no comércio, com a guerra comercial de Donald Trump. Eles não falam desse jeito explícito, mas é isso que querem dizer. No entanto, dizem que o Brasil está forte para aguentar esses eventos porque as contas externas estão “robustas”. O país tem, como se sabe, saldo comercial forte, déficit em transações correntes pequeno e reservas altas. Mas se o governo não fizer “as reformas”, repetiu a ata, pode haver riscos.
Como o Copom deve reagir se houver uma alta forte do dólar? Na sua linguagem característica, eles avisam que só atuarão nos “efeitos secundários dos choques”. Ou seja, se a moeda americana se valorizar, não será motivo para os juros subirem. Mas se isso afetar de forma decisiva a inflação, aí os juros podem subir. Por enquanto, avisam, “as expectativas estão ancoradas”, ou seja, as previsões de inflação estão em torno do centro da meta.
Num cenário como o que o Brasil vive, de inflação na meta e alta capacidade ociosa na economia, qual é o melhor remédio? A ata avisa que a “prescrição” é de “política estimulativa”. Quer dizer: os juros permanecerem baixos por bastante tempo para que isso incentive o crescimento.
O Copom disse que não daria sinais sobre as próximas reuniões porque tudo está incerto, porém, acabou dando sinais de permanência da Selic em 6,5% pelo menos até a próxima reunião. E, de novo, pela terceira vez, lembrou que para os juros serem estruturalmente baixos é preciso fazer reformas na economia. Mas isso quem vai dizer é o próximo governo, e na cena política há muitas incertezas e alguns candidatos negando a necessidade de reformas e até propondo soluções mágicas para dilemas difíceis.
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