As primeiras pesquisas eleitorais após o registro oficial dos candidatos à Presidência ampliaram as incertezas sobre o resultado das eleições, em vez de delinear tendências. Sinal da baixa previsibilidade, o candidato que mais cresce não pode por lei ser candidato e não aparece em público, pois está preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jair Bolsonaro, do PSL, ainda avança, embora discretamente, jogando para o futuro as apostas de que sua inconsistente candidatura desmancharia no ar. Sem Lula na urna, Bolsonaro até se distanciou um pouco mais de seus rivais imediatos, Marina Silva e Ciro Gomes. O tucano Geraldo Alckmin, que possui a maior coalizão de partidos em seu apoio, tem ligeiro aumento de preferência no Datafolha (de 7% para 9%) e queda no Ibope (8% para 7%), o que indica que, na verdade, ainda permanece estacionado.
A estratégia do PT de levar a candidatura de Lula até o limite de tempo da Justiça e das possibilidades deu até agora mais resultados do que a participação nos debates eleitorais dos demais candidatos. Até junho, o ex-presidente, embora mantendo a dianteira, vinha caindo na preferência dos entrevistados. Lula ressuscitou com força em agosto, saltando de 30% para 39% (Datafolha) e de 33% para 37% (Ibope). Ele não só ganha de todos os demais concorrentes no segundo turno, como ampliou essa vantagem.
Os mercados, como indica a quebra da barreira de R$ 4 pelo dólar, mostram-se triplamente inquietos. Primeiro, porque o candidato do PSDB se arrasta nas pesquisas. Segundo, porque o PT, autor do desastre econômico com o qual o país ainda convive, está de novo no páreo. Terceiro, porque as pesquisas apontam o confronto dos dois candidatos ou forças com as maiores taxas de rejeição, Lula (ou seu indicado do PT) e Bolsonaro, em uma polarização que resultará em baixa governabilidade, seja quem for o vencedor da disputa.
Os próximos pontos possíveis de mudança do quadro eleitoral são a definição, pelo Tribunal Superior Eleitoral, sobre a candidatura de Lula - que o PT, em princípio, tenta estender para depois de 15 de setembro - e o início dos programas de TV e rádio dos candidatos, a partir de 31 de agosto.
No caso quase certo da inelegibilidade de Lula, resta avaliar sua capacidade de transferir seus votos para seu substituto, Fernando Haddad. Essa capacidade existe, segundo as pesquisas, com potencial suficiente para levá-lo ao segundo turno. Ibope e Datafolha fizeram perguntas diferentes para medir isso. Segundo o Ibope, 13% dos eleitores de Lula com certeza votariam em Haddad e 14% apontam que poderiam votar nele, um empurrão de pelo menos 10 pontos percentuais nos 4 que Haddad já possui. Esse impulso é mais fraco que o observado pelo Datafolha, que perguntou se o apoio de Lula a um candidato levaria o eleitor a votar nele. Entre os que responderam com certeza (31%) e talvez (18%) há 49% dos que apoiam Lula (39%), ou seja, uma transferência possível de quase 20 pontos percentuais.
O risco para Lula e o PT é o tempo disponível para fixar a imagem de que Lula é Haddad nas urnas. Sem Lula, o número dos que votam em branco, nulo ou não sabem sobe a 28% (Datafolha) ou 38% (Ibope). No cenário sem Lula, tanto Marina Silva (Rede) quanto Ciro Gomes (PDT) dobram de tamanho nas pesquisas, e nada impede que mais votos se dirijam para eles se a operação Haddad não for muito bem-sucedida. Marina tem seus melhores índices de preferência no Nordeste e Norte, onde Lula é lider.
O horário eleitoral gratuito será a prova dos nove dos candidatos com tempo mínimo na TV, como é o caso de Bolsonaro (18 segundos) e Marina (34 segundos) e a última chance de Alckmin aspirar ao segundo turno, já que terá 44% do tempo destinado a todos os candidatos. Ele está em desvantagem mesmo em redutos que foram do PSDB em eleições passadas. No maior colégio eleitoral do país, o Sudeste, Bolsonaro tem quase o dobro da preferência (21% a 11%) e, no Sul, o tucano tem irrisórios 3%, segundo o Ibope, enquanto o candidato do PSL têm 23% e Álvaro Dias (Podemos), 12%.
Uma das indagações relevantes é saber se as redes sociais terão um bom peso compensatório ao do horário eleitoral. Se tiver, Bolsonaro terá boa chance de estar no segundo turno. Marina, Ciro Gomes e Haddad disputarão o campo da esquerda, abrindo espaço para o avanço de Alckmin. O único cenário onde não haverá polarização é aquele em que Bolsonaro e Alckmin se enfrentam. Até agora, não é o cenário mais provável. Há, porém, tempo suficiente para reviravoltas.
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