- Folha de S. Paulo
Nos 45 dias antes do primeiro turno é raro haver mudança grande na votação dos candidatos
De meados de agosto até o primeiro turno, não costumava haver mudança relevante da votação dos candidatos a presidente, registram as pesquisas. A exceção maior ocorreu justamente na eleição mais excepcional, a de 1989, de desarranjo tão comparado ao da disputa deste ano.
No mais, houve a derrocada de Ciro Gomes em 2002, que perdeu a vice-liderança passando de 27% dos votos para 8%, no mês e meio final da campanha —ficando atrás de José Serra, estacionado em minguados 13% no Datafolha.
A história não serve para prognóstico, claro. Talvez a comparação com 1989 ainda sirva para melhorar os chutes a respeito das possibilidades de ascensões e desmanches de capital de votos neste ano. Informações da mais recente pesquisa Datafolha ajudam a polir a especulação.
O horário eleitoral gratuito de rádio e TV nas campanhas de 1989 e 1994 durava quase dois meses; nesta, cerca de um mês. Fernando Collor saltou de 14% para cerca de 40% dos votos entre abril e junho. Por aí ficou até o início do horário eleitoral, quando passou a minguar, chegando às vésperas do primeiro turno com 26% dos votos. Durante a campanha radiotelevisada, Lula da Silva passou de 5% para 14%, passando ao segundo turno.
Jair Bolsonaro (PSL) é "outsider insider" de modo análogo a Collor. Não tem coalizão partidária, tal qual. Collor tinha muito tempo de TV; Bolsonaro, quase nenhum. Não havia, claro, rede social virtual ou eletrônica.
Em 1989, os candidatos ligados ao governo eram quase zumbis eleitorais, como agora. Não havia a organização política que de 1994 a 2014 se articulou com PT e PSDB.
A eleição de agora não é solteira, como a de 1989. O eleitor tinha menos escola e era bem mais pobre. O de agora estudou mais; muitos tiveram a experiência recente das possibilidades da mudança social.
Apesar da rejeição de políticos mais tradicionais, não havia a repulsa ao sistema político em si. Bolsonaro tem um ponto forte aí.
De novo, do Datafolha recente, convém prestar atenção à crescente rejeição a Bolsonaro, maior inclusive do que a repulsa a Lula (que cai sem parar desde abril de 2016). Não se passa tal coisa com os demais candidatos. Note-se também que vem diminuindo o eleitorado que diz votar em ninguém, um fantasma desta eleição que parece se dissipar. Logo, parece haver muito voto em disputa.
A julgar pelo que dizem os entrevistados do Datafolha, o "dedazo" de Lula a indicar Fernando Haddad (PT) pode levar esse ex-prefeito de São Paulo a conseguir de 12% a 19% dos votos. Em tese, pode passar Marina Silva (Rede) ou empatar com Bolsonaro.
Geraldo Alckmin (PSDB) tem seu latifúndio de tempo televisivo e, por ora, nenhum outro apoio ou fundo extra de onde sacar votos, pois ainda não tem mensagem de campanha para derrubar Bolsonaro ou para comover o povo miúdo.
O tucano tem mais ou menos o mesmo porcentual de votos somados dos demais candidatos da direita mais comportada, Alvaro Dias (Pode), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), 6% e 9%, nos cenários com e sem Lula. Mesmo que seus adversários no campo azul evaporassem, agora improvável, não há certeza de que herdasse todos os votos. Como roubá-los?
Ensanduichado entre as duas direitas, Bolsonaro e o outro trio, Alckmin ainda tem o limite do paredão da esquerda. Resta o insondável destino da votação forte de Marina.
No resumo da ópera, uma reviravolta não parece implausível.
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