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Tarefa ingrata
Deveria ser bem remunerada a tarefa dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) de defendê-lo com tanto empenho nas redes sociais. Porque não está nada fácil. E por culpa do candidato.
Quando a Folha de S. Paulo, há mais de um mês, publicou que Bolsonaro não participaria de nenhum debate, seus devotos foram obrigados a dizer que ele tinha razão.
Mas aí Bolsonaro desmentiu o jornal e compareceu a dois debates. Os bolsonaristas mudaram então de opinião e deram razão a ele, elogiando também seu desempenho.
Pareciam, ontem à noite, aturdidos com a notícia de que Bolsonaro poderá desistir de vez dos debates. Ainda não haviam sido orientados sobre o que dizer. Ensaiavam explicações por sua conta e risco.
Quando Bolsonaro disse que se eleito retiraria o Brasil da ONU, sua tropa na rede precipitou-se em chamar a ONU de reduto da esquerda. Quando ele voltou atrás, ela emudeceu.
Não, não está fácil.
Bolsonaro ameaça fugir aos debates
O medo de dar-se mal
Se não foi Paulo Guedes, para quem transfere as perguntas sobre economia que não sabe responder, foi outro Guedes qualquer que aconselhou o deputado Jair Bolsonaro (PSL) a não mais participar de debates até o fim do primeiro turno das próximas eleições.
Ao site UOL, do Grupo Folha de S. Paulo, o presidente em exercício do partido de Bolsonaro, Gustavo Bebianno, afirmou antes das 22 horas de ontem que o candidato não deveria participar de nenhum outro debate. Se participar de algum, “será uma exceção”, comentou.
O mesmo Bebianno, diante da repercussão negativa do anúncio, recuou mais tarde e disse à Folha que a campanha “reavalia” a participação de Bolsonaro dos debates de televisão já marcados. “Esses debates não levam a nada e ele está de saco cheio”, justificou.
Não se trata disso. Por certo, Bolsonaro é uma pessoa impaciente, que detesta ser contrariada. Está acostumado a falar o que quer e a ser aplaudido por seus devotos independente do que tenha dito, e da propriedade ou não do que disse. Líderes autoritários são assim.
O problema é que Bolsonaro se deu mal nos dois debates que participou promovidos pela Rede Bandeirantes de Televisão e pela RedeTV. E a recente pesquisa de intenção de votos do Datafolha apontou-o como o campeão em rejeição, superando Lula.
Valerá a pena correr o risco de perder votos no confronto direto com seus adversários? E de aumentar sua impopularidade entre as mulheres? Porque ela aumentou, sim, segundo o Datafolha, desde o carão que ele levou da candidata Marina Silva (REDE).
Sem Lula no páreo, Bolsonaro lidera as pesquisas, mas com Marina nos seus calcanhares. Nas simulações de segundo turno feitas pelo Datafolha, Bolsonaro é derrotado por Marina, Ciro Gomes (PDT) e até Geraldo Alckmin (PSDB).
De dezembro último para cá, os índices de voto de Bolsonaro, mas não só os dele, oscilaram dentro da margem de erro das pesquisas. Isso significa que ele não cresceu nem diminuiu. Está onde sempre esteve. E pode, por enquanto, ter atingido o seu teto.
Os outros candidatos ainda têm muito espaço para crescer. A propaganda eleitoral no rádio e na televisão só começará em 31 de agosto, e o tempo reservado a Bolsonaro será mínimo. Ele está destinado a apanhar muito e não poderá se defender à altura.
Hoje, seu lugar no segundo turno está praticamente garantido. Mas ele é o candidato dos sonhos que os demais candidatos desejariam enfrentar quando a competição se reduzir a dois nomes. É isso o que o assombra: tanto esforço para – quem sabe? – morrer na praia.
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