- Valor Econômico
Alckmin já cuida de manter posições em São Paulo
Após quatro derrotas consecutivas para o PT, o PSDB está fora do segundo turno da disputa presidencial de 2018, a primeira vez em 16 anos. A discussão sobre a possibilidade de uma terceira via é estéril. A esta altura da competição o que importa é o viés e Jair Bolsonaro, pelo PSL, e Fernando Haddad, candidato do PT, estão em curva ascendente. Salvo fato novo e extraordinário, a eleição será decidida entre o PT e o antipetismo. O chamado centro político foi achatado entre os dois lados. Acabou. Ao menos por ora. Uma série de erros, novos e antigos cometidos pelos tucanos foram decisivos para o desfecho em vista.
O inventário do fracasso centrista já começou a ser feito entre os que apostaram na candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin no comando de uma ampla aliança de centro-direita e um latifúndio na propaganda eleitoral no rádio e na TV. Tudo o que não precisava aconteceu na campanha do tucano, a começar pelo fato de a candidatura já nascer perdendo dentro do PSDB, especialmente na cúpula, onde Alckmin nunca foi considerado "um de dentro". Prova disso é a declaração de Fernando Henrique Cardoso dizendo que poderia apoiar Haddad, no cenário delineado como mais provável.
O ex-governador não sentava à mesma mesa em que Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Aécio Neves e Andrea Matarazzo, para citar apenas alguns dos cardeais, quando eram decididos os rumos e as candidaturas do partido. Alckmin se ressentia por ser deixado de lado. Ele entrou um pouco no clube em 2006, quando botou o pé na porta para ser o candidato no lugar de José Serra, a primeira vítima do PT. O racha foi explícito na escolha do candidato a prefeito de São Paulo em 2016, quando Alckmin passou por cima dos cardeais e indicou o nome de João Doria.
O segundo aspecto avaliado é a leitura errada que Alckmin e seus assessores fizeram da campanha eleitoral. Logo nos primeiros dias o ex-governador foi alertado que não deveria dar prioridade aos ataques a Bolsonaro. Os alvos, desde logo, deveriam ser o PT e Fernando Haddad. Até as pedras da Boca Maldita, em Curitiba, sabiam que Lula não seria o candidato petista, mas sim Haddad, ex-prefeito de São Paulo.
Alckmin e campanha acompanharam de camarote todos os atos da peça encenada por Lula em Curitiba e perderam um tempo precioso. À toa, porque os votos antipetista foram se acomodando na candidatura de Bolsonaro. Ao contrário das hesitações do PSDB, Bolsonaro sempre foi assertivo e duro nas críticas ao PT. "Eles [os tucanos] subestimaram o Bolsonaro", diz uma fonte com acesso aos meandros da campanha tucana.
Havia até um bordão preparado para Alckmin: "São Paulo vai fazer o próximo presidente da República, cabe a você escolher: É Haddad ou eu [Geraldo Alckmin]". À época, Alckmin ainda esperava recuperar votos perdidos para Bolsonaro. - "Os votos são parecidos" e "é preciso frear o Bolsonaro" eram os argumentos usados pela campanha. Mas bater no candidato do PSL tinha um efeito colateral, só percebido mais tarde: afastava, em vez de reaproximar, os eleitores do PSDB que haviam trafegado em direção do candidato do PSL. Resultado: a campanha de Alckmin virou uma metralhadora giratória contra Bolsonaro, Lula, Dilma e até Michel Temer, cachorro morto na campanha em curso.
O terceiro ponto é a facada em Jair Bolsonaro, episódio que não estava no script e portanto não deve ser debitado na conta de Alckmin e sua campanha. O atentado não registrou a mesma onda de comoção que tomou conta do país quando Eduardo Campos, então candidato do PSB, morreu no início da disputa eleitoral de 2014. Mas a partir do incidente da rua Halfeld, em Juiz de Fora, Bolsonaro aos poucos consolidou a liderança.
No inventário da derrota pesa muito o jeito como o PSDB lidou com a acusação de que Aécio Neves - o candidato que quase devolveu o Palácio do Planalto aos tucanos em 2014 - mantinha uma relação promíscua com o empresário Joesley Batista (J&F).
Alckmin agora reforça posições em São Paulo. Pensa no futuro. O PSDB pode cair nas mãos de João Doria, se o ex-prefeito ganhar a eleição para o governo. Antigos aliados, Doria e Alckmin estão desavindos. Doria era nome que os tucanos, lá atrás, viam como ideal para derrotar o PT. Traumatizados por quatro derrotas consecutivas para o PT, parcela do eleitorado tucano aparentemente entendeu que Bolsonaro é uma alternativa melhor.
Nos cálculos do centro, a eleição pode ser decidida no Sudeste. O Nordeste é considerado caso perdido, na proporção de 60% a 30% para o PT. Com as bandeiras da segurança e do antipetismo, o candidato do PSL tem boas possibilidades na eleição. Na acirrada disputa de 2014, o PT teve a avalanche de votos esperados do Nordeste e ganhou no Rio de Janeiro e Minas Gerais - e as pesquisas atuais indicam que, desta vez, Bolsonaro pode vencer nos dois Estados.
No momento, qualquer mudança de quadro somente seria possível de Alckmin, num gesto de despreendimento, apoiasse o nome de Ciro Gomes (PDT) ao Planalto. O pedetista está melhor situado na disputa que o tucano. É improvável, até porque o apoio de Ciro já está sendo cortejado pelo PT para o segundo turno.
Economia do PT
Fernando Haddad está sendo aconselhado a não fazer inflexão no discurso econômico do PT. Em contatos com banqueiros, Haddad afirmou que não é de dar "cavalo de pau na economia". A expressão também já foi utilizada por Lula. Numa viagem entre Recife e João Pessoa, na caravana de seu livro, o ex-ministro José Dirceu deu a receita para a repórter Andrea Jubé, do Valor: "Se for eleito, o Haddad vai assumir e melhorar o ambiente político e a economia brasileira. Nós vamos parar com essa sandice que levou a Argentina ao desastre que é cortar dinheiro e não dar crédito, não estimular o consumo, não valorizar o salário, a aposentadoria, querer resolver o problema do déficit público com corte. Déficit público se resolve baixando juro da dívida pública".
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