terça-feira, 25 de setembro de 2018

Rafael Cortez: Alterações marginais

- O Estado de S. Paulo

Acorrida presidencial em diversos momentos sofreu influência da competição presidencial na França. A chegada do “Macron brasileiro” era aguardada diante dos sinais de desgaste da polarização PT-PSDB. O desejo era que a renovação do sistema partidário produzisse um líder responsável na condução da política econômica e pragmático diante da emergência da polarização. A mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo pode ser vista também sob inspiração francesa. A renovação pragmática não emergiu, mas os dados sugerem a dificuldade de vitória de candidaturas extremistas.

As simulações de segundo turno, em linhas gerais, caminham para a vitória dos diversos opositores (com exceção de Marina) em cenário contra Bolsonaro. Em boa medida, é resultado da estratégia da campanha bolsonarista em fidelizar seu eleitorado. A narrativa quase sempre aposta no reforço do caráter antiestablishment da campanha. O alvo principal é o PT, mas não só. O que alimenta e seduz o eleitorado de Bolsonaro é um discurso contra instituições oficiais. O custo é reforçar a rejeição naqueles eleitores que precisam ser conquistados no segundo turno.

Os números do Ibope mostram descolamento de Haddad em relação a Ciro Gomes. Aqui entra em cena a opção política do petismo pela oposição à administração Temer e ao histórico da legenda com a agenda típica da esquerda. A influência do ex-presidente Lula apenas reforça o peso na mobilização do eleitorado de esquerda. O eleitor busca no passado a solução para a insatisfação presente.

A pesquisa mostra que, a despeito do delicado momento político, as alterações na competição presidencial foram marginais. A tendência é de segundo turno entre esquerda e direita. Dessa vez, o antipetismo responde por Jair Bolsonaro.
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Rafael Cortez DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA USP E SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA

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