quarta-feira, 21 de novembro de 2018

As caravanas: Editorial | Folha de S. Paulo

Trump busca o embate ao tratar da marcha de migrantes da América Central aos EUA

Por mais que Donald Trump os queira longe, mais de uma dezena de milhares de migrantes que cruzam a América Central já se aglomeram no norte do México, às portas dos Estados Unidos. É preciso senso de urgência para resolver tal questão; a maneira como o presidente deseja solucioná-la, porém, tende apenas a um agravamento.

A retomada do controle da Câmara pelo Partido Democrata, nas eleições do início do mês, obriga o líder republicano a dialogar com a oposição caso pretenda rever pontos da legislação imigratória —e, assim, dificultar a chegada dessas caravanas a solo americano.

Não parece ser esse o caminho escolhido pela Casa Branca. Trump estabeleceu, por ordem executiva (medida que não precisa passar pelo Legislativo), que o governo só aceitasse examinar pedidos de asilo de quem o fizesse nos postos oficiais de fronteira e aguardasse o trâmite fora do país.

Na segunda (19), um juiz federal suspendeu a determinação, sob o argumento de que cabe ao Congresso alterar esse tipo de norma.

Coerente com seu modo de governar, o mandatário tem preferido o embate. A começar pela recorrente associação que faz entre os democratas e o fluxo crescente de centro-americanos. Antes do pleito legislativo, lançou a desatinada tese de que estes eram incentivados a entrar nos EUA para se tornarem eleitores anti-Trump.

Para o presidente, o fato de integrantes dessas marchas empunharem bandeiras de suas respectivas nações (em sua maioria de Honduras, Guatemala e El Salvador, que figuram entre os mais pobres do continente) seria uma prova de que não querem de fato emigrar, ou seja, estariam encenando uma farsa por motivação política.

Muito mais lógico seria depreender que esse contingente foge da violência e da falta de perspectiva no intento de aproveitar eventuais oportunidades em uma economia em expansão --algo de que o chefe da Casa Branca tanto se gaba, aliás.

Não se pode ser ingênuo, contudo, em relação a esse diagnóstico míope. Convém a Trump tratar a imigração ilegal pela ótica puramente repressora. Uma pesquisa recente do instituto Pew aponta que 75% dos eleitores republicanos consideram o tema um problema "muito grande".

A despeito de trazer mais popularidade entre seus correligionários, a estratégia de bloquear todas as rotas apenas protela, ou quando muito transfere ao vizinho, a necessidade de oferecer alguma alternativa à massa de imigrantes.

Medidas de controle fronteiriço se justificam, decerto, mas devem ser acompanhadas de um processo mais expedito de avaliação das solicitações de asilo e da manutenção de programas de ajuda aos países da América Central. Do contrário, as caravanas só farão crescer.

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