Malu Delgado e Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-governador Geraldo Alckmin e o governador eleito de São Paulo, João Doria, conversaram ontem, na capital paulista, sobre questões da administração estadual e sobre os rumos do PSDB. Os dois têm claras divergências de posicionamento, mas tucanos asseguraram que ficou acordado, pelo menos por ora, que o partido está disposto a apoiar reformas que julgar importantes e que forem encampadas no governo de Jair Bolsonaro. Mas não haverá adesão à futura administração.
Derrotado na eleição presidencial, Alckmin é, nos bastidores, extremamente crítico a Bolsonaro, enquanto Doria está cada vez mais próximo do presidente eleito. Os dois, que se encontraram pela primeira vez depois do segundo turno, acertaram também que uma executiva nacional do PSDB será escolhida em maio do ano que vem, como já era previsto na ata do partido, firmada em dezembro de 2017, quando Alckmin assumiu o comando partidário.
Em 2019, estão previstas mudanças de direção em todas as esferas: executiva municipal (em março), estadual (em abril), e nacional (em maio). Por ter vencido a eleição em São Paulo e ter se fortalecido politicamente, Doria terá papel crucial na definição da próxima executiva nacional da legenda. Em entrevista ao Valor, na semana passada, o governador eleito já tinha defendido uma troca no comando partidário. Na ocasião, Doria disse que "quem não tem voto, participa e quem tem voto, comanda".
Um dos nomes cotados para assumir a presidência do PSDB é do ex-ministro das Cidades e deputado federal Bruno Araújo (PE), considerado um dos líderes da ala tucana conhecida como os 'cabeças-preta'. Em geral, o grupo prega favor de uma guinada à direita. O parlamentar pernambucano, no entanto, não conseguiu se eleger senador, apesar das duas vagas em disputa.
O encontro também serviu para restabelecer a relação entre os dois tucanos depois que Alckmin sugeriu, em reunião do partido logo após o primeiro turno, que Doria seria um "traidor". O ex-governador nunca escondeu sua insatisfação com a movimentação do ex-prefeito dentro e fora da sigla para viabilizar sua pré-candidatura presidencial.
O tesoureiro do PSDB, deputado federal Silvio Torres, afirmou que Alckmin cumprirá seu mandato à frente do PSDB até o final, e que a nova escolha da executiva já estava prevista para ocorrer em maio. Sobre os posicionamentos políticos do partido, Torres disse que é necessário aguardar a posse e a formação do próximo governo, mas crê que a tendência é, de fato, o partido "apoiar projetos importantes" e agir com independência em relação a Bolsonaro.
Com o objetivo de fortalecer sua posição entre os correligionários, Doria reuniu ontem, em São Paulo, outros dois governadores eleitos do PSDB (RS e MS) em uma tentativa de unificar o discurso da sigla em favor de um apoio à agenda de Bolsonaro.
Em comum acordo, os três afirmaram que o pacto acordado por eles não representa um acordo formal com o presidente eleito. "Não precisamos de cargos. E isso nem foi proposto", frisou Doria, que se reuniu com Bolsonaro na quarta-feira, em Brasília. A questão deve ser debatida internamente em reunião prevista para ocorrer no dia 22 de novembro.
"Não é neutralidade. Não seremos neutros. Vamos apoiar todas as iniciativas econômicas e institucionais que vierem ao encontro dos brasileiros, sobretudo os mais pobres e mais humildes", explicou Doria.
Na mesma linha, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ressaltou que país depende de reformas que gerem desenvolvimento econômico e a retomada dos investimentos. "O importante é apoiar uma agenda, mais do que a figura de um governante", argumentou Leite.
Já o governador reeleito do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, disse que o PSDB não está preocupado com cargos. "É agenda Brasil, não precisa ter participação no governo. Precisa ter liberdade o presidente eleito para compor uma equipe técnica". Entre os deputados tucanos também prevalece a ideia de um apoio "responsável" ao governo.
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