quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Uirá Machado: A crença na mentira

- Folha de S. Paulo

Reportagem mostra como os maiores absurdos são lidos como verdade por uma parcela do público

A indústria de fake news há muito não é novidade. Pelo menos desde a eleição de Trump, em 2016, circulam ótimas reportagens sobre o incrível mundo das fábricas de notícias falsas. E, no entanto, parece não diminuir o número de pessoas dispostas a acreditar em qualquer bobagem difundida na internet.

Um bom exemplo desse triste quadro veio em matéria recente publicada pelo jornal The Washington Post e reproduzida pela Ilustríssima.

O veículo americano não chegou a desbravar fronteiras. Reduzido às estruturas básicas, o texto pouco difere de outros conteúdos produzidos sobre o assunto. Ainda assim, trata-se de excelente leitura para quem gosta de refletir sobre o tema.

O Post conta a história de Christopher Blair, 46, um americano que mantém uma página de notícias falsas chamada America’s Last Line of Defense (última linha de defesa da América). Ele não faz questão de disfarçar seu propósito enganoso. Ao contrário, destaca um alerta claríssimo: Nada nesta página é real.

Para sua surpresa, inúmeras pessoas acreditavam em tudo o que ele publicava, menos no alerta. “Não importa o quanto fôssemos racistas, preconceituosos, ofensivos e obviamente falsos naquilo que escrevíamos, as pessoas não paravam de nos visitar”, Blair escreveu certa vez em sua página pessoal no Facebook. “Será que chega um ponto em que as pessoas decidem que aquilo que lhes estão servindo é lixo e decidem voltar à realidade?”

Infelizmente, tudo indica que a resposta a essa pergunta sempre será negativa para uma parcela do público. Há uma razão para isso, e ela atende pelo nome de viés de confirmação —a tendência que todos temos de valorizar as informações que reforçam as nossas próprias crenças.

Talvez seja impossível superar esse viés, mas quem quiser minimizar seus efeitos deletérios tem boas opções: sempre se perguntar se há outras explicações possíveis para uma “certeza” e procurar entrar em contato com quem pensa de forma diferente são ótimos pontos de partida.

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