quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Bruno Boghossian: Bolsonaro e o berimbau

- Folha de S. Paulo

Ministro encontra mensaleiro e novo governo abraça aos poucos as regras do jogo

Com passos desajeitados, a equipe de Jair Bolsonaro começa a procurar um espaço nas rodas da política tradicional. Onyx Lorenzoni, próximo chefe da Casa Civil, parou sua agenda nesta quarta (28) para cumprimentar o célebre Valdemar Costa Neto no almoço que o mensaleiro ofereceu à bancada do PR.

Apesar dos sinais em sentido contrário, aos poucos o novo governo abraça as regras do jogo. O aperto de mãos com Valdemar numa churrascaria foi um dos gestos de articulação política mais relevantes feitos pelo futuro ministro até agora.

Por mais que Bolsonaro e seus aliados insistam em inventar um novo modelo de governabilidade, algumas acomodações se mostram inevitáveis. Os votos dos 33 deputados do PR se encaixam nessa categoria.

O novo governo prometeu espremer a administração federal em 15 ministérios. Chegou a 19 nesta quarta e deve bater 21 ou 22 até o fim da semana que vem. A pressão de grupos de interesse e, principalmente, dos parlamentares obrigou o presidente eleito a desenhar puxadinhos no projeto de sua Esplanada ideal.

As concessões são feitas num momento em que o próprio Bolsonaro admite uma fragilidade na articulação política de seu futuro governo. Ele disse ao portal Poder 360 que Onyx “não daria conta do recado” e que, por isso, nomeou um general sem experiência direta na área para lidar com os congressistas.

As escolhas feitas pelo presidente eleito nas últimas 24 horas têm um DNA claramente político. O Turismo será entregue ao deputado Marcelo Álvaro, que é do PSL de Bolsonaro e tem o aval das bancadas evangélica e mineira. No Desenvolvimento Regional, ficará um servidorque era um dos responsáveis por destravar emendas dos políticos na Integração.

Era para ser um governo basicamente de técnicos e notáveis, mas quem vai cuidar do desenvolvimento social, do esporte e da cultura é um deputado do MDB de Michel Temer. Osmar Terra disse à Folha, inclusive, que não entende nada das duas últimas áreas: “Só toco berimbau”.

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