- O Globo
A pedido de Bolsonaro, o Brasil desistiu de sediar a Conferência do Clima. O recuo indica que o novo governo está mesmo disposto a isolar o país na agenda ambiental
Surgiu o primeiro vexame internacional do novo regime. O Brasil desistiu de sediar a Conferência do Clima da ONU em 2019. A candidatura havia sido confirmada no mês passado. Foi costurada com todos os países da América Latina e do Caribe.
Na terça-feira, o Itamaraty atribuiu o recuo a “restrições fiscais e orçamentárias”. Ontem o ministro Onyx Lorenzoni tentou sustentar a desculpa esfarrapada. “Não temos nada a ver com isso”, disse. Segundos depois, foi desmentido pelo presidente eleito.
“Houve participação minha nessa decisão”, informou Jair Bolsonaro, desmoralizando ao mesmo tempo os diplomatas e o futuro chefe da Casa Civil. Ele renovou a ameaça de romper com o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para a redução das emissões de carbono. O Congresso aprovou o compromisso por unanimidade.
O recuo indica que o novo governo está mesmo disposto a abandonar o protagonismo na agenda ambiental. Seria um retrocesso de gerações. O Brasil demorou a conquistar respeito internacional no setor. Foi um esforço longo, que atravessou diferentes governos desde a Eco 92.
O Acordo de Paris foi assinado por 195 países. No ano passado, os EUA decidiram abandoná-lo unilateralmente. Se Bolsonaro cumprir a ameaça, o Brasil vai se deixar um grupo de 193 nações para imitar o exemplo de Donald Trump. Com a desvantagem de não ter o poder de barganha da Casa Branca.
A opção pelo isolamento tende a ser um tiro pela culatra. O Brasil correrá o risco de sofrer novas barreiras à exportação de produtos agrícolas. “Seria péssimo para o agronegócio e para a imagem do país”, diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl.
Ontem Bolsonaro insistiu na tese do “Triplo A”, que ameaçaria a soberania nacional sobre a Amazônia. Rittl explica que a ideia de incorporar a floresta a um grande corredor ecológico nada tem a ver com o Acordo de Paris. “É assustador que o presidente eleito continue usando esse argumento, que não tem nenhuma consistência. Ou ele está mal assessorado ou não quer se informar”, critica o biólogo.
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