Mercado de crédito mostra expansão no ano, mas juros bancários continuam uma anomalia do país
Em consonância com a maior parte dos indicadores, os números do mercado de crédito sugerem que o crescimento da economia tende a ganhar maior ímpeto em 2019.
O estoque dos financiamentos subiu 4,4% ao longo dos 12 meses encerrados em novembro, a maior alta desde fevereiro de 2016. Mais importante, as novas concessões, que proporcionam uma leitura mais precisa da procura, cresceram 11,3% no mesmo período.
Tal aceleração ocorreu especialmente nos últimos meses, e talvez o aumento recente da confiança de famílias e empresas já se reflita em maior demanda.
Os bancos, por seu turno, também parecem menos arredios. Depois de quase quatro anos de retração, as maiores instituições privadas enfim mostram disposição de ampliar suas carteiras.
A redução da inadimplência e a percepção —correta ou não— de que o novo governo abraçará a agenda de ajuste das finanças públicas impulsionam o otimismo.
Nem tudo são boas notícias, porém. Mesmo com a taxa do Banco Central, a Selic, no menor patamar de sua história (6,5% ao ano), os juros permanecem altíssimos na maior parte das modalidades.
Nas novas operações do segmento de taxas livres (não reguladas), a média foi de astronômicos 37,9% anuais em novembro, contra 42,6% um ano antes. Trata-se de queda de lentidão exasperadora.
Em consequência, o spread bancário —a diferença entre o custo de captação e os juros dos empréstimos— permanece muito acima da média internacional.
Segundo estudo realizado para a Febraban (a federação dos bancos), o spread no Brasil foi de 22% em 2016, contra 9,1% no México e uma média inferior a 5% entre os outros países pesquisados.
Eis uma anomalia crônica do mercado brasileiro que merece ataque em diversas frentes.
Para dar mais segurança aos credores, urge melhorar a retomada das garantias, modernizar a lei e as práticas de recuperação judicial, fazer avançarem o cadastro positivo e a duplicata eletrônica.
Cumpre tratar, também, da concentração e do lucro dos bancos. Embora a Febraban argumente que não existem distorções nesses aspectos, é evidente o poder de mercado das grandes instituições.
Nesse sentido, cabe ao Banco Central facilitar a entrada de novos participantes em todos os segmentos do mercado financeiro. Felizmente, a defesa da concorrência tem ganhado mais espaço como objetivo de politica pública, porém ainda resta um longo caminho a percorrer para normalizar o custo do crédito no país.
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