Entre as iniciativas do Estado de São Paulo para desenvolver sua economia, uma das mais importantes – mas que é pouco conhecida do grande público – foi a criação do Fundo de Inovação Paulista, que investe capital de risco em empresas recém-criadas com o objetivo de criar produtos e modelos de negócios. Conhecidas como startups, elas operam em condições de incerteza com base num produto, serviço, processo ou plataforma vinculada a uma tecnologia ainda em fase de desenvolvimento e de pesquisas de mercado.
Lançado em 2013 e com data para encerrar suas atividades, prevista para 2021, o Fundo é iniciativa conjunta do poder público e da iniciativa privada. Seu capital provém de entidades de apoio à inovação científica e tecnológica, como a Desenvolve SP; a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp); a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação; o Banco de Desenvolvimento da América Latina; o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); e uma gestora de fundos privados, a Jive Investments.
Em seus primeiros anos de funcionamento, o Fundo recebeu e analisou cerca de 1,6 mil propostas e selecionou 20 para investir. Em média, ele controla 35% do capital desses empreendimentos. A ideia é que sejam estimulados a crescer para que, mais tarde, o Fundo possa vender sua participação com lucro. O objetivo é que, em 2021, os R$ 105 milhões investidos entre 2017 e 2018 propiciem um retorno de R$ 420 milhões.
Como as empresas financiadas atuam em diferentes áreas e seu desempenho não é homogêneo, os gestores reconhecem que algumas podem não dar certo. “O risco gera fracassos, mas também é o que viabiliza o grande sucesso de algumas companhias. Um terço das empresas deve gerar prejuízo. Outro terço deve dar um retorno baixo e recompensar o capital investido apenas com um resultado incremental. Do outro terço esperamos um desempenho extraordinário, multiplicando o investimento entre 5 e 30 vezes”, afirma Francisco Jardim, responsável pela empresa que gere o Fundo de Inovação Paulista.
A viabilização dessas empresas, para que possam se consolidar, gerar empregos e propiciar lucros para seus investidores, é apenas um dos objetivos do Fundo. Outro é desenvolver ecossistemas locais de inovação, como o que foi criado na região de Piracicaba com a Raízen, uma joint venture entre a Cosan e a Shell e uma das maiores produtoras e exportadoras de açúcar e etanol do mundo.
Quando o Fundo foi criado, a economia paulista se encontrava em retração e a ideia de seus gestores era de que empresas de tecnologia para o agronegócio respondessem por até 50% dos investimentos, ficando o restante para as áreas de tecnologia de informação, saúde e novos materiais. Mas, percebendo o impacto da revolução digital no campo, em 2016 eles optaram por ampliar para 73% a proporção de recursos destinados a empresas de tecnologia para o agronegócio.
A decisão foi acertada, pois no ano seguinte o agronegócio cresceu 13% em todo o País, enquanto os setores industrial e de serviços ficaram estagnados. Das 477 empresas de tecnologia agropecuária então analisadas, foram selecionadas 12. Uma delas, incubada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, hoje tem como clientes empresas mundiais, como a Coca-Cola e a DuPont, participou de um programa de aceleração do Google e já foi convidada a participar de um programa de transferência de tecnologia da Agência Espacial Americana. Outra empresa criou um algoritmo capaz de indicar ao produtor, com até 95% de certeza e meses de antecedência, qual será sua colheita ao final da safra.
Iniciativas como a criação do Fundo de Inovação Paulista mostram o quanto a economia pode crescer e passar a níveis mais sofisticados de produção graças a parcerias entre órgãos estatais e iniciativa privada. Essa é a lição que as demais unidades da Federação deveriam aprender: quando o interesse público se sobrepõe a decisões tomadas com base em interesses eleiçoeiros ou ideológicos, todos tendem a ganhar.
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