- Folha de S. Paulo
Cuidado com seu vizinho: ele pode ser miliciano
Nos últimos anos o Rio tem ampliado o alcance da frase atribuída a Tom Jobim: “O Brasil não é para principiantes”. Aqui, só dá profissional. Pegue o exemplo de um personagem desconhecido mas cujas atuação e trajetória deixariam envergonhado o mais delirante roteirista de Hollywood: o ex-sargento da PM Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Até então, aos olhos da sociedade, ele era um cidadão de bem, acima de qualquer suspeita, homenageado na Assembleia Legislativa. Aos 48 anos, tinha a ficha limpa, descontando as 124 multas aplicadas ao seu carro importado. O Infiniti, blindado e avaliado em cerca de 120 mil, ficava na garagem da mansão com cinco suítes onde morava, num condomínio de luxo da Barra da Tijuca, o mesmo onde o presidente Bolsonaro tem uma residência —um imóvel ali pode custar R$ 4 milhões.
Egresso do Exército, exímio atirador, o “caveira” Lessa foi promovido por atos de bravura. Em 2009, já ligado ao jogo do bicho, perdeu a perna num atentado a bomba. Reformado por invalidez, bandeou-se para uma quadrilha de matadores de aluguel, conhecida como Escritório do Crime. Sua conta recebia depósitos de até R$ 100 mil, em dinheiro, na boca do caixa. Em abril de 2018 —mês seguinte aos homicídios de Marielle e Anderson— sofreu novo atentado. Um homem de moto atirou contra ele no Quebra-Mar da Barra, indicando a tentativa de queimar o arquivo vivo.
Profissional era o arsenal de Lessa: 117 fuzis M-16 desmontados, cujo valor de venda supera R$ 4 milhões. Algumas das peças eram falsificadas, o que não prejudica sua letalidade. Montados, os fuzis atiram e matam; distribuídos entre as facções criminosas que dominam as favelas, seriam capazes de provocar uma pequena guerra civil na cidade.
A força do crime organizado é tão grande que hoje é impossível mapeá-lo. O miliciano mora ao lado.
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