- O Globo
Bolsonaro esnoba ajuda da Alemanha e tenta interferir na eleição da Argentina. Sua diplomacia da canelada pode ter um custo alto para o Brasil
Jair Bolsonaro entrou na fase de rasgar dinheiro. No domingo, ele disse não se importar com o corte nas doações alemães para a proteção da Amazônia. “Pode fazer bom uso dessa grana. O Brasil não precisa disso”, desdenhou.
Em tempos de vacas magras, o presidente esnobou R$ 155 milhões oferecidos por um país amigo. O repasse seria destinado a ações de combate ao desmatamento. Para recebê-lo, o Brasil só precisava demonstrar empenho na proteção da floresta.
Bolsonaro já deixou claro que se lixa para a tarefa. Na semana passada, chegou a brincar com o apelido de “Capitão Motosserra”. A ministra alemã Svenja Schulze não achou graça. “Não posso simplesmente ficar dando dinheiro enquanto continuam desmatando”, disse. O 7 a 1 continua, mas agora a goleada é na arena diplomática.
Ontem o presidente deu outra canelada que pode custar caro ao país. Em visita a Pelotas, ele reclamou da derrota de Mauricio Macri nas prévias argentinas. Chegou a fazer terrorismo com a provável vitória da oposição peronista. “Se essa esquerdalha voltar aqui na Argentina, nós poderemos ter sim, no Rio Grande do Sul, um novo estado de Roraima.
E não queremos isso: irmãos argentinos fugindo pra cá”, afirmou.
A Constituição estabelece que as relações internacionais do Brasil devem seguir os princípios da não intervenção e da autodeterminação dos povos. Ao atacar a escolha dos argentinos, Bolsonaro descumpre a lei brasileira e desrespeita o eleitorado do país vizinho.
O discurso do presidente também afronta a inteligência alheia. Cristina Kirchner não é Nicolás Maduro, e Buenos Aires não é Caracas. Se o peronismo vencer, o Brasil poderá enfrentar represálias do seu maior parceiro comercial na região. E os argentinos continuarão fugindo para cá, mas só na temporada de férias.
Macri está em baixa porque a economia argentina vai mal. Seu choque liberal não deu certo: a pobreza cresceu, a inflação disparou e o país voltou a pedir socorro ao FMI. O apoio de Bolsonaro também parece não ajudá-lo. Os argentinos não têm saudade da ditadura militar, que o presidente brasileiro insiste em defender.
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