IHU On-Line – A sua tese é a de que o governo quer operar uma política de estado-maior, intervindo no DNA da nossa sociedade. Pode explicar em que consiste esse objetivo e como isso está sendo feito a partir do método de governo do presidente Bolsonaro?
Luiz Werneck Vianna – Este governo vem com uma proposta muito radical, qual seja, desviar o país da sua trajetória tradicional não só na política interna, mas na política externa, no tema da cultura, dos valores, em tudo. Isso não é uma tarefa fácil. Então a dificuldade da tarefa está implicando em manobras diversionistas: fazer a gente olhar para um lugar, enquanto na verdade está se operando com força em outro lugar.
A meu ver, o projeto neoliberal que o ministro Paulo Guedes encarna é o cerne, o coração da proposta de governo do Bolsonaro. Mas como isso tem dificuldades porque importa mexer na questão ambiental, abrir o ambiente para a mineração, para o agronegócio - e também em todas as questões em que ele quer intervir os obstáculos não são pequenos -, ele já está desde logo visualizando a reeleição como forma de realizar essas mudanças drásticas, radicais, que quer introduzir na cena política brasileira. Mudar a história e criar uma outra história é uma operação muito difícil, mas esse objetivo vem sendo cultivado há tempos pelas grandes elites econômicas do país. Na verdade, a sustentação maior do Bolsonaro está nas grandes elites econômicas do país, das finanças, do agronegócio.
*Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador na Pontifícia Universidade Católica - PUC-Rio, Entrevista em IHU On-Line, 12/8/2019
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