- O Estado de S. Paulo
Apesar de a primária de domingo não ter efeito legal – não mais do que eliminar as candidaturas que não superaram 1,5% dos votos –, para a Argentina e boa parte do mundo o impacto é enorme. Isso porque significa a provável volta de Cristina Kirchner à Casa Rosada, de onde é comandado o destino dos 45 milhões de argentinos. Claro que Cristina regressará como vice diante da decisão inusitada que tomou em maio. Parece que seu instinto político acertou, pois a responsabilidade na campanha foi assumida por Alberto Fernández que, para os argentinos, é hoje o presidente virtual.
Fernández teve apenas quatro meses para se transformar de analista político e professor universitário em herdeiro do movimento fundado por Juan Perón. Ele assumiu inúmeras tarefas, por momentos impossíveis para uma única pessoa: recuperar o diálogo com governadores e prefeitos; convencer dirigentes políticos distantes do kirchnerismo, e se converter em uma figura popular para o grande público, sobretudo para os eleitores mais jovens; elaborar um discurso político aceitável e possível; estabelecer um diálogo com a mídia que já não o trataria com o mesmo cuidado como quando se transformou num forte crítico de Cristina; e também poder falar com eloquência para as multidões, a prova de fogo de um líder peronista.
A última e, provavelmente mais complexa tarefa de Fernández, foi (e será) estabelecer um equilíbrio razoável com Cristina, que apostou seu apoio eleitoral numa aventura política cujo prognóstico exigia cautela.
Hoje, Macri e seu governo parecem aturdidos diante de um resultado eleitoral que praticamente os tira do poder na entrega do comando, em 10 de dezembro. As eleições primárias se transformaram num plebiscito no qual a pergunta apresentada foi: deseja continuar mais quatro anos com o programa econômico de Macri? A resposta foi contundente: não. (Tradução de Terezinha Martino )
*Professor da universidade de Buenos Aires
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