sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Gilles Lapouge* || G-7 debate desigualdade

- O Estado de S.Paulo

Essa luta contra as desigualdades é conduzida em Biarritz por sete países que representam 10% da população mundial, mas produzem 40% do PIB do globo

O encontro do G-7 será realizado entre amanhã e segunda-feira em Biarritz. Antes era o G-8 (as oito maiores nações democráticas), mas depois que Putin invadiu a Crimeia, em março de 2014, os ocidentais expulsaram a Rússia desse encontro anual.


Alguns, como o presidente francês, Emmanuel Macron, acreditam que a penitência imposta a Putin já durou muito, pois a Rússia ainda é um dos grandes atores políticos e econômicos do mundo.

Na manhã de quarta-feira, as notícias davam conta de que Trump também deseja o retorno de Putin. Mas no caso de Trump as coisas nunca são certas.

Talvez ele manifeste esse desejo só para “irritar” aquele que ainda é seu pesadelo, o ex-presidente Barack Obama, que está na origem da expulsão da Rússia do G-8.

Assim, o encontro ocorrerá com segurança máxima uma vez que a insegurança também é máxima. Paris informou que 13 mil policiais estarão em Biarritz, que ficará isolada do mundo.

O aeroporto ficará fechado para toda atividade comercial. Uma brigada de juízes foi mobilizada para se apresentar de imediato. Quatrocentos bombeiros estarão em alerta, além de 13 equipes médicas.

Na parte alta da cidade, homens vigiam os drones. Uma fragata da Marinha está em prontidão na costa. Estradas foram fechadas. A impressão é que se aguarda a chegada de Gengis Khan e seus cavaleiros assassinos.

Os habitantes de Biarritz estão nervosos. O comércio (de luxo) prevê dias mortos, e esta é uma estação balneária, chique, e contabiliza seus ganhos no verão. Talvez seja simplesmente um descuido daqueles que escolheram Biarritz para essa reunião do G-7 em plena temporada de férias.

Mas mais intrigante ainda foi o tema que Macron escolheu para ser discutido: “A luta contra as desigualdades”. Uma grande ideia: declarar a luta contra as desigualdades na cidade mais cheia de ostentação do país, especialista em festas ruidosas, champanhe bebido da garrafa, repleta de praias douradas nas quais se exibem as mais ricas herdeiras da Europa.

E essa luta contra as desigualdades é conduzida por sete países que representam 10% da população mundial, mas produzem 40% do PIB do globo.

Outra ideia luminosa dos que escolheram essa cidade. Ela é a capital do País Basco francês e mantém vínculos fraternos com o País Basco espanhol.

Ora, alguns bascos da Espanha empreenderam uma guerra insana, impiedosa e letal contra a Espanha durante anos. Hoje não explodem mais bombas contra inocentes, mas continuam pessoas treinadas, violentas e talvez não tenham esquecido seus reflexos de guerra.

Existe uma tradição: nos encontros do G-7 realiza-se paralelamente, e muito próximo, um encontro “contra o G-7”, de tudo o que na Europa provém da contracultura. Um alto nível intelectual.

E este ano os organizadores desse encontro paralelo prometem que serão pacíficos. Serão 80 associações agrupadas sob a sigla “Não ao G-7” inscritas para as reuniões em Hendaye, na França, e em Irún, na Espanha. É pouco. Eram esperados pelo menos 200. Mas esses dias serão de estudo, afirmam.

Enfim, não será uma surpresa se encontrarmos em Biarritz um terceiro grupo, os black blocs, esses jovens insuportáveis com o rosto encoberto, ágeis como onças que se misturam nas passeatas ou manifestações e depois quebram vitrines, incendeiam carros, destroem bens comuns, para depois desaparecerem.

Este ano há mais razões para temores: os black blocs são cada vez mais numerosos e a longa revolta dos “coletes amarelos” na França propiciou a eles um treinamento de alto nível e amizades que geram batalhões compactos. A polícia detém alguns. Mas, de qualquer modo, eles recomeçam. / Tradução de Terezinha Martino

*É correspondente em Paris

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