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General sai em socorro do capitão
Sempre que o caldo entorna para o lado do capitão Jair Bolsonaro, em seu socorro costuma sair o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República onde dá expediente.
Foi assim, ontem, outra vez – desta, porque a Amazônia arde em chamas e a comunidade internacional culpa o governo brasileiro por cuidar mal dela, ou por simplesmente não ligar. O general mirou na França para atingir demais países europeus.
Emmanuel Macron, presidente francês, convocou uma reunião de emergência para este fim de semana do G7, grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Em pauta, as queimadas e a destruição da Amazônia.
Voz militar mais influente dentro do governo Bolsonaro e também nas Forças Armadas, Villas Boas, um general sem comando, disparou no Twitter uma série de mensagens belicosas e preocupantes. A primeira foi a mais alarmante, escandalosa e bizarra:
“Com uma clareza dificilmente vista, estamos assistindo a mais um país europeu, dessa vez a França, por intermédio do seu presidente Macron, realizar ataques diretos à soberania brasileira, que inclui, objetivamente, ameaças de emprego do poder militar.”
Atribui-se ao general Charles De Gaulle, presidente da França depois da 2ª Guerra Mundial, um comentário sobre o Brasil que se tornaria famoso: “Não é um país sério”. Por linhas tortas, Villas Boas deu razão ao que De Gaulle jamais disse, embora possa ter pensado.
Macron não atacou a soberania brasileira. Quando nada porque a Amazônia não é coisa exclusivamente nossa. Ela se estende por mais oito países (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guianas 1 e 2, e Suriname). Uma das Guianas é território francês.
A fala de Macron não incluiu nem objetivamente nem vagamente a ameaça “de emprego do poder militar”. Delírio de Villas Boas, fantasma cultivado pelos militares nativos sempre que a Amazônia está em discussão, maneira tosca de incitar os chamados valores nacionais.
Em outra mensagem do general também postada no Twitter só faltou o brado para que se pegue em armas:
“A questão ultrapassa os limites do aceitável na dinâmica das relações internacionais. É hora do Brasil e dos brasileiros se posicionarem firmemente diante dessas ameaças, pois é o nosso futuro, como nação, que está em jogo.”
Ao celebrar em 1º de junho passado o Dia do Guerreiro da Selva, Villas Boas já havia expressado o sentimento dos seus ex-colegas de farda a respeito da Amazônia:
“Que o mundo saiba que a Amazônia não tem preço e que cabe exclusivamente aos brasileiros definir os parâmetros pelos quais ela será protegida e desenvolvida pois é a floresta original mais preservada do mundo”.
Como signatário de tratados internacionais, o Brasil está obrigado a respeitar parâmetros pelos quais deverá proteger o meio ambiente. Quando não respeita, desperta a gritaria internacional. Foi assim em governos passados, os de Lula e de Dilma entre eles.
Está sendo assim com o de Bolsonaro, um governo que tem dado provas fartas de que não está nem aí para o que possa degradar o meio ambiente. Nunca o desmatamento da Amazônia foi tão devastador e cresceu tão velozmente como na era do capitão perverso.
Na ausência de um conflito armado desde fins do século XIX, bem que o Exército do general Vilas Boas poderia declarar guerra ao desmatamento ilegal e criminoso da Amazônia e de outras áreas do território nacional. Seria uma boa ocupação para suas tropas.
Resta a Moro sair sem ser esculachado
Na corda bamba
Em 16 de setembro de 2002, ao ser descoberto escondido no Complexo do Alemão, no Rio, o traficante de drogas e assassino do jornalista Tim Lopes, repórter da TV Globo, Elias Pereira da Silva, mais conhecido como Elias Maluco, implorou ao policial que lhe deu voz de prisão: “Perdi, chefe, só não esculacha não”.
Não seria de todo impróprio que o ex-juiz Sérgio Moro, ministro da Justiça, repetisse o apelo de Elias Maluco diante do capitão Jair Bolsonaro. Convidado para ser um dos dois Postos Ipiranga do governo (o outro seria o economista Paulo Guedes), ele perdeu tal condição em menos de oito meses. Não precisa ser esculachado.
Beirou ao esculacho o que disse, ontem, Bolsonaro, sobre sua intromissão na área de governo sob o comando de Moro. A Policia Federal é um órgão de Estado, não de governo. Administrativamente subordina-se ao ministro Moro, mas só obedece a ordens da justiça. Pois Bolsonaro quer mandar nela.
“Está na lei. Eu que indico e não o Sérgio Moro”, bateu na mesa Bolsonaro, referindo-se à indicação do Diretor-Geral da Polícia Federal. A irritação presidencial tem um motivo: ele quis indicar um delegado amigo de sua família para a superintendência da Polícia Federal no Rio, área de especial interesse das milícias.
Foi obrigado a recuar – pelo menos por enquanto. Delegados e superintendentes da Polícia Federal ameaçaram entregar seus cargos. E Moro alertou Bolsonaro para o desastre que isso representaria. Só que Bolsonaro há muito tempo que não leva em conta tudo o que Moro lhe diz. E o trata com crescente má vontade.
Amigos do ex-juiz o aconselham a pedir demissão. Ele ainda resiste. Quer ver se Bolsonaro terá coragem de demiti-lo. Corre o risco de não só ser demitido como esculachado.
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