Por Marina Guimarães | Valor Econômico
BUENOS AIRES - O presidente de uma nação precisa ser um "moderador", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento ontem em Buenos Aires, numa alusão à eleição na Argentina mas também ao governo Jair Bolsonaro no Brasil.
"Um presidente simboliza, mais que um partido, uma nação. É preciso perceber que o exercício da Presidência requer por de lado a visão partidária", afirmou Cardoso. "Não é fácil equilibrar, mas enquanto está no exercício da Presidência tem que escutar o outro."
Sobre o cenário político atual, FHC alertou para o risco representando por correntes políticas no mundo que não são democráticas. "Quando um líder personalista ganha uma eleição e se acha o senhor de tudo, há um problema", declarou. "Há um momento de nacionalismo autoritário em várias partes, será que isso vai predominar?", perguntou, destacando em seguida que ninguém pode garantir que a democracia prevalecerá.
Ele ainda diferenciou a onda atual de populismo com o de figuras históricas como Juan Domingo Perón, na Argentina, e Getúlio Vargas, no Brasil. Segundo o sociólogo, o populismo de Perón e Vargas tinham um caráter mais inclusivo, enquanto o de hoje defende políticas excludentes.
Na frente econômica, FHC citou a crise da globalização e colocou o Brasil, a Argentina e a América do Sul no contexto. "A geopolítica está mudando e nossos países têm que olhar a longo prazo, como fazem os chineses", disse. "O poder não deriva apenas do lado econômico, é mais complexo. Os chineses têm estratégia, visam o longo prazo, é um país antigo. Isso temos de aprender."
FHC concluiu se declarando um "argentinófilo" e disse que não compartilha a visão pessimista que muitos têm da Argentina. "Creio que a Argentina tem as qualidades de um grande país. A Argentina tem a capacidade de renovar-se. Quando as coisas não caminham não é por uma razão cultural, é porque as coisas são difíceis. O mundo é difícil."
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