O bolsonarismo é a expressão tupiniquim de um fenômeno mundial.
A globalização, a era da informação, o relativo esgotamento do estado de bem-estar social tal como concebido no século passado, a democracia representativa perpassada pelas redes sociais, a crise dos setores da economia que não se integraram às cadeias mundiais e os fluxos migratórios desencadearam reações regressistas vocalizadas pela extrema-direita mundial.
Somam-se, no Brasil, o conflito entre a herança da economia fechada em si mesma e à necessária integração ao mundo, a crise do modelo de representação política exposta pela Lava Jato, a ascensão de amplas camadas da população ao mercado de consumo e a posterior recessão prolongada, o ingresso massivo no sistema educacional em dissintonia com a modernidade e a necessária qualificação, a não extensão dos direitos econômicos e sociais à grande maioria dos brasileiros, e mesmo o avanço das reivindicações identitárias. Tudo isso, em conjunto, e a fraca ou a não resposta dos setores do centro democrático e progressista, abriram espaço para a extrema-direita, que se expressou, por peculiaridades históricas, na candidatura e vitória de um simplório, retrógrado, ultradireitista e até então pouco articulado e inexpressivo deputado federal, capitão do Exército na reserva, nas eleições de 2018.
Vive-se agora uma quadra em que estão sob ameaças as conquistas decorrentes da Constituinte de 1988 e dos trinta e cinco anos ininterruptos de democracia.
No território econômico, nem sequer a tímida retomada do crescimento do governo de transição de Temer está assegurada.
A esquerda, hegemonizada pelo lulopetismo, que governou o país por três mandatos e meio, insiste em continuar presa à cela de Curitiba, sem reconhecer e enfrentar a autocrítica dos seus erros.
O conjunto das forças democráticas ainda vive a dispersão provocada pela polarização no processo eleitoral passado, continuado pelo presidente eleito e seu núcleo duro ajudados objetivamente pelas forças passadistas com sinal contrário.
Lá fora, todo o espectro político civilizatório se une contra a extrema-direita, como aconteceu recentemente na Itália, em Israel e também na Alemanha e na França, com vitórias importantes. Mesmo no Reino Unido não está sacramentado o rompimento com a União Europeia. Trump perdeu a maioria na Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, foi derrotado em eleições parciais e não tem garantida sua reeleição.
No Brasil, neste contexto, é alvissareiro o aparecimento da aglutinação de diversas personalidades e setores da política em torno de Luciano Huck.
“Ele tem exercido relativo protagonismo na política nacional e cresce, nesse papel, à medida em que passa a congregar personalidades e formações solidamente estabelecidas na história da democracia e das conquistas civilizatórias em nosso país”, atesta Roberto Freire.
O presidente nacional do Cidadania ecoa e apresenta a proposta da construção de um centro progressista, na defesa da Constituição de 88, na retomada da economia com um crescimento que atenda às demandas urgentes de uma população que enfrenta as consequências da mais prolongada crise econômica de nossa história, e, ainda, em torno de uma pauta progressista nos costumes, sob flagrante ameaça.
É muito cedo para se especular na conformação política e orgânica de alternativas para 2022. O que urge, hoje, aqui e agora, é a conformação de um ou mais desaguadouros para as personalidades e forças políticas democráticas e progressistas.
Neste sentido, as movimentações públicas de Luciano Huck agregam nesse rumo e dão nome e rosto a esse movimento na direção de apear do poder em 2022 a extrema-direita, com vistas a fazer voltar o país ao trilho histórico decorrente da Constituinte de 88.
Roberto Freire alerta as chamadas forças de esquerda, situadas no lulopetismo, para não repetirem o erro de ajudar na desidratação do centro democrático.
“Só uma ampla candidatura que expresse a defesa do melhor do passado e do hoje e que aponte o futuro”, diz Freire, “pode aglutinar e vir a ser a real alternativa”.
Por ora, “cumpre congregar, reunir, discutir, contrapor”, são verbos citados pelo presidente nacional do Cidadania, para quem Luciano Huck poderá vir a ser o desaguadouro dessas movimentações.
São Paulo, 22 de setembro de 2019
* Luciano De Freitas Pinho o é editor do canal Reformistas (www.facebook.com/reformistas.br)
* Antônio Sérgio Martins Catatau é editor do canal Difusoratv (www.facebook.com/difusoratv.com.br)
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