- Folha de S. Paulo
Programa de pesquisas acha conexões entre temor da morte e radicalização
O medo de morrer tem profunda implicação no modo como nos comportamos. A ideia parece banal, mas inspira ramo interessante da pesquisa em psicologia, que deu segmento experimental a cogitações do antropólogo cultural americano Ernest Becker (1924-1974).
Juízes do Arizona foram lembrados por entrevistadores de que iriam cedo ou tarde para a cova e depois foram questionados sobre qual seria a fiança que fixariam para um caso comum de prostituição. A quantia estipulada foi nove vezes a arbitrada pelo grupo de magistrados que não fora estimulado sobre mortalidade.
Segundo a teoria, chamada de “gerenciamento do terror”, sempre que somos lembrados da finitude, reagimos reforçando os liames com as crenças da comunidade. Os artefatos culturais desenvolvidos pelos grupos humanos seriam, assim, respostas ao medo do indivíduo de acabar.
Um eficiente resumo desse debate, em inglês, está disponível num episódio do ótimo podcast Hidden Brain, da rede pública de rádio dos EUA.
A despeito de estarem corretos ou não os seus ambiciosos pressupostos teóricos, os patronos desse longo programa de pesquisas, como Sheldon Solomon, encontraram conexões que deveriam interessar aos estudiosos da política contemporânea.
O medo de morrer, ostensivamente estimulado em episódios como ataques terroristas e diligentemente explorado em campanhas eleitorais, alimenta nacionalismos e populismos em voga. Lembradas em experimento de que vão para o bico do corvo, as pessoas valorizam líderes carismáticos como Donald Trump.
A crer na propositura, as lideranças que no Brasil e no mundo se ocupam da costura de um novo centro político deveriam estar atentas a indicadores menos usuais, como os níveis de ansiedade sobre a morte.
Mantê-los sob controle, evitar o endosso às vezes inadvertido à agenda e à linguagem dos radicais, pode ajudar a empurrar o jogo da política para longe do terreno onde imperam os nossos piores instintos tribais.
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