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Estelionato eleitoral à vista
Onde se leu: Jair Bolsonaro diz que no seu governo jamais loteará cargos públicos em troca do apoio de partidos, leia-se: para prevenir-se contra um pedido de impeachment que possa custar-lhe o mandato, o presidente Jair Bolsonaro passou a oferecer cargos públicos a partidos em troca de votos no Congresso.
Que perdoe o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria do Governo, que acumula o Ministério das Boas Notícias e reclama da imprensa que, segundo ele, só parece enxergar as notícias más. A compra de apoio por Bolsonaro não é uma notícia nem má nem boa. É simplesmente notícia e não pode ser ignorada.
Um devoto do presidente, ontem, no cercadinho do Palácio da Alvorada, perguntou-se se era verdade que ele está oferecendo os cargos que prometera reservar só para pessoas de sua inteira confiança. Bolsonaro irritou-se com a pergunta e deu uma resposta malcriada. Sim, ele anda bastante nervoso ultimamente.
Foi obra dos ministros militares que o cercam convencê-lo de que o governo de cooptação não é tão mal assim. E que sem partido desde que abandonou o PSL pelo qual se elegeu, sem votos para aprovar seus projetos no Congresso, seria recomendável que procedesse como os presidentes que o antecederam.
Os bolsonaristas sinceros, porém radicais, ficarão furiosos, é certo. Mas por sinceros e radicais, serão obrigados a continuar a defende-lo à falta de opção. Os bolsonaristas móveis ou em trânsito, esses não são confiáveis e já estão em trânsito, embora ainda não saibam para onde. Poderão retornar ao regaço de Bolsonaro.
O chamado governo de coligação funcionou à época dos presidentes Itamar e Fernando Henrique. À época de Lula, funcionou, mas deu na Lava Jato. À época de Dilma, não foi suficiente para que ela completasse o segundo mandato. À época de Temer, sustentou-o, mas não o impediu de ser preso depois.
Bolsonaro, e mais ninguém, é que sabe onde lhe apertam os calos e, no momento, a dor que deveras sente empurra-o na direção que jurou nunca ser capaz de trilhar. A Velha Política, essa está assanhadíssima e pronta a jurar-lhe fidelidade enquanto dure o amor e não se apague a chama.
Taokey, Jair Bolsonaro, você venceu. Batatas fritas!
Daqui a uma semana, o ministro Nelson Teich, da Saúde, divulgará seu plano de desmonte do isolamento social adotado como meio de combate à pandemia do coronavírus. Caberá então a governadores e prefeitos pô-lo ou não em prática, como decidiu recentemente o Supremo Tribunal Federal. A responsabilidade será deles.
Mas, na prática, o isolamento já começou a acabar sob a pressão do presidente Bolsonaro e de empresários preocupados em salvar a Economia. Bolsonaro é a favor do passe livre para o vírus. Quanto mais brasileiros forem contaminados, menos restarão para ser. Se a Economia for para o brejo, levará junto o governo e a reeleição.
A marca de três mil mortos deverá ser ultrapassada hoje. Nas últimas 24 horas, o vírus matou por aqui mais 165 pessoas. Foram quase sete por hora, uma morte a cada nove minutos. O total oficial de mortos, de fevereiro para cá, é de 2.906. E de contaminados, 45.757. Os números estão bem aquém da realidade.
O pico da primeira onda da doença deverá se abater sobre o país entre meados e final de maio. Haverá uma segunda onda. Os Estados Unidos trabalham com a hipótese de haver uma terceira. Nem por isso as medidas restritivas serão mantidas aqui e lá. Bolsonaro reza pela cartilha de Trump, candidato à reeleição.
Em Santa Catarina, ontem, os shoppings reabriram e foram registradas grandes aglomerações de pessoas. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) anunciou que parte do comércio poderá reabrir suas portas a partir do próximo dia 11. Hoje, o governo do Rio deverá decidir algo parecido.
No Rio Grande do Sul, a volta parcial à normalidade começará em breve. A princípio, a volta às aulas no Distrito Federal está marcada para o dia 18. Pelo menos mais oito Estados avançam na mesma direção. Naturalmente, falta combinar com o vírus que já matou no mundo quase 180 mil pessoas e contaminou 2,6 milhões.
Um governo incapaz de fazer chegar com rapidez 600 reais mensais às mãos dos mais vulneráveis não é capaz de mais nada – a não ser fabricar crises, perseguir adversários e segurar em alça de caixão. É isso o que acontece. O adiantamento previsto da segunda parcela da ajuda de 600 reais foi cancelado por falta de dinheiro.
Sem o aval do Ministério da Economia, o ministro Braga Neto, chefe da Casa Civil da presidência, antecipou o lançamento de um plano de recuperação econômica pós-covid 19 que prevê aumento dos gastos com investimentos públicos para os próximos anos. O plano é vago e carece de recursos para ser executado.
Por ora, o governo bate cabeça e dá sinais de que está perdidinho da silva.
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