- Folha de S. Paulo
Fake news são o assunto capaz de tirar o presidente do sério
Jair Bolsonaro abriu tantas frentes de atrito que merece ser estudado em aulas de estratégia.
Há situações em que o problema escolhido pelo presidente não quis ser apenas um problema. Transformou-se em dois, como no caso de Abraham Weintraub. Passou meses plantando o atraso no Ministério da Educação. Como esses frutos não aparecem tão rápido, procurou uma vergonha mais imediata para passar. Resolveu atacar desvairadamente o STF e se tornou um nó político, com risco de ir preso.
Assim como a escalada de de mortes por coronavírus, o fosso econômico e a completa falta de rumo do governo, o destino de Weintraub dificilmente encurta o sono do presidente. Sua demissão pode ser efetivada para ajudar noutra frente, essa sim capaz de tirar Bolsonaro do sério: a investigação sobre as fake news.
O flanco aberto com reportagens da Folha durante a campanha de 2018 expõe um nervo que parece doer demais no presidente. Quando o assunto é esse, sua reação, assim como a dos filhos, acaba saindo sempre diferente, ainda mais agressiva do que o tom habitual.
A quebra de sigilo de 11 parlamentares no inquérito dos atos antidemocráticos, que envolve alguns dos personagens da investigação sobre as fake news, fez Bolsonaro falar em “chutar o pau da barraca”.
É uma frase e tanto para a boca de um presidente. Mas esses pequenos rugidos são o máximo que ele pode fazer. Sua linha de defesa em relação a esse tema já variou um bocado, sem jamais atingir qualquer ponto de consistência. Incluiu baixarias misóginas na CPI, ataques a esmo à mídia, defesa da liberdade de expressão e tentativa frustrada de evitar o compartilhamento de informações entre STF e TSE.
Tais provas podem demonstrar abuso de poder econômico e doação ilegal a campanhas. Isso, numa Justiça Eleitoral que faça valer o nome, leva à cassação da chapa. Bolsonaro decerto sabe por que tem ficado tão nervoso.
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