- O Globo
Ele pode uma hora dessas partir para cima de um jornalista
O VALENTÃO
Em seus quase 30 anos de Câmara, Jair Bolsonaro só folgou com mulher, jamais levantou a voz contra homem. Na única vez em que se viu confrontado por um, colocou o rabo entre as pernas e correu. Foi no episódio em que o ex-deputado Jean Wyllys cuspiu na sua cara, durante a sessão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Bolsonaro não fez nada contra a grosseria horrorosa, nem satisfação foi tomar.
Foi corajoso com Maria do Rosário, ao ofendê-la dizendo “jamais iria estuprar você porque você não merece”, empurrando-a e levantando a mão contra a ex-deputada. Foi em 2003, na época em que ele ainda não pinçava a sobrancelha. Também foi agressivo com uma jornalista, ao dizer à repórter Camila Mattoso, da “Folha de S. Paulo”, que usava o dinheiro do auxílio-moradia da Câmara “para comer gente”. Na mesma entrevista, perguntou o que Camila faria se ele dissesse que a viu na Vila Mimosa (antiga área de prostituição no Rio).
Depois de eleito presidente, cercado por seguranças, foi ganhando coragem e, de repente, virou o valentão do Planalto Central. Começou mandando jornalistas, homens inclusive, calar a boca, apontando o dedo, gritando e xingando. E agora, ao ameaçar dar “porrada” na boca de um repórter, chegou perto do ápice. Pode uma hora dessas partir para cima de um jornalista, mas isso só vai acontecer se os seguranças da sua escolta estiverem atentos e prontos para protegê-lo.
PRESIDENTE EM CAMPANHA
O presidente do Brasil tem contribuído para que crimes eleitorais sejam cometidos seguidamente, e não se ouve um “opa” do Tribunal Superior Eleitoral. Desde o dia 15 de agosto, as viagens de Bolsonaro e os eventos de lançamento de programas eleitoreiros com presença de candidatos a prefeito e vereador desrespeitam a legislação eleitoral. Depois do prazo que veda inaugurações, três meses antes do pleito, o presidente entregou obras no Rio Grande do Norte, em Sergipe, no Mato Grosso do Sul e em Minas. Hoje faz outra pajelança no Paraná. Chuta se havia candidatos amigos naqueles eventos e se outros estarão presentes no de hoje.
Na véspera do prazo final, no dia 14 de agosto, Bolsonaro esteve no Rio inaugurando uma escola cívico-militar com o prefeito Marcelo Crivella. Na terça-feira passada, dando continuidade a seu programa “copia e cola”, relançou o projeto petista Minha Casa Minha Vida, rebatizado de Casa Verde Amarela. Foi no Planalto, para uma plateia de apoiadores, bajuladores e candidatos a prefeito e vereador. E daí, TSE?
FORO E IMUNIDADE
A imunidade parlamentar existe em diversos países para proteger deputados e senadores no exercício dos seus mandatos e para que possam votar livremente sobre qualquer tema. Impede que eles sejam processados pelas suas opiniões e por seus votos. No Brasil, ultrapassa o objetivo original ao blindar o parlamentar de qualquer crime, por estabelecer que ele só pode ser preso se for pego em flagrante. Um deputado pode até matar ou mandar matar uma pessoa. Se não houver flagrante, segue sua vida normalmente.
A deputada Flordelis dos Santos de Souza foi denunciada pela polícia como mandante do assassinato de seu marido. Diante de indícios e provas irrefutáveis da materialidade da acusação, a Justiça mandou prender cinco filhos e uma neta da deputada. Um deles admitiu que disparou contra o pai a mando da mãe. Flordelis não foi tocada. Embora responda por crime triplamente qualificado, ela está livre e continua exercendo seu mandato.
Tramita no Congresso uma proposta de emenda constitucional que acaba com o foro privilegiado, outro artifício inventado para dar proteção aos detentores de mandato. Ele supõe que o juiz de primeira instância não tem competência para julgar parlamentares por atos relativos ao exercício de seus mandatos.
Por quê? Não se sabe. Se deputados e senadores forem corajosos, derrubam o foro e enterram junto a imunidade parlamentar. Desse dia em diante, passarão a ser cidadãos comuns, como você e eu, e merecerão mais nosso respeito.
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