Ex-prefeito recebeu ontem primeiro apoio, do Cidadania, enquanto estrategista do adversário afirma já ter formado aliança com oito partidos para a reeleição
Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Numa demonstração de força para quem balançou no cargo em três ondas de votação de impeachment, o prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos) chega às vésperas do período das convenções partidárias com a perspectiva de formar uma coligação com até nove legendas.
Além da própria sigla, Crivella conta com PP, Solidariedade, Patriota, Podemos, PTC, PMN e PRTB, agremiação do vice-presidente da República Hamilton Mourão.
Estrategista da campanha à reeleição do prefeito, o ex-deputado federal Rodrigo Bethlem afirma que a confirmação do PSL como nono e mais forte parceiro da aliança seria a “cereja do bolo”.
É justamente a decisão da ex-sigla do presidente Jair Bolsonaro - que está entre os dois maiores tempos de TV e fundo eleitoral - que pode desequilibrar o jogo contra o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que também negocia com o PSL.
Acostumado a concorrer com amplas coligações e máquina partidária estadual e/ou municipal, Paes, por enquanto, costurou o apoio do Cidadania, cujo pré-candidato, deputado federal Marcelo Calero, desistiu ontem da disputa em seu favor.
O parlamentar afirmou que a ideia é fazer uma grande frente. Disse que Paes tenta atrair PV e Avante e que, de sua parte, pretende ajudá-lo e reforçar as negociações com PSDB e Rede, que já contam com pré-candidatos, respectivamente o empresário Paulo Marinho e o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. “Continuo na tarefa de fazer a convergência, só que agora não mais em torno do meu nome”, disse Calero.
O PL ainda está em dúvida se apoia Paes ou se lança Cabo Daciolo, que teve mais de 1,3 milhão de votos ao Planalto, ficando à frente do ex-ministro da Fazenda e candidato governista, Henrique Meirelles, e da ex-senadora Marina Silva (Rede), sensação nas corridas presidenciais de 2010 e 2014.
É com a eventual adesão do fiel da balança, o PSL, que Paes poderia ganhar musculatura maior que a dos pequenos e médios aliados reunidos em torno de Crivella. Para Bethlem, contudo, a forte identidade conservadora da coligação do prefeito e as pontes de Paes com a esquerda tenderiam a inviabilizar a composição do DEM com o PSL.
Em qualquer um dos cenários, a legenda, que ainda abriga a maioria dos deputados bolsonaristas eleitos em 2018, teria que rifar a pré-candidatura do deputado estadual Rodrigo Amorim. “Você já imaginou o Calero e o Marcelo Freixo [Psol] no mesmo palanque com o Amorim apoiando o Paes num segundo turno?”, questiona Bethlem.
O ex-prefeito tem feito de tudo para se equilibrar entre a esquerda e a direita. Critica Crivella mas poupa Bolsonaro, que filiou sua família no partido do mandatário - os filhos Flávio, senador, e Carlos, vereador, e a ex-mulher Rogéria, mudaram-se recentemente para o Republicanos. A expectativa de Paes é fugir ao máximo da federalização da campanha e, para isso, foca o debate das questões locais. “A eventual tentativa de nacionalização, por parte de alguns candidatos, é um sinal de incompetência para falar da própria cidade”, criticou Calero.
A tentativa de Crivella de nacionalizar o debate pode aumentar a voltagem ideológica da campanha. No entanto, a possibilidade de que Amorim seja o vice não empolga tanto o grupo do prefeito. Eleito na esteira de Bolsonaro depois de quebrar uma placa em homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (Psol), Amorim tornou-se “persona non grata” ao clã do presidente.
No rompimento entre Bolsonaro e Wilson Witzel (PSC) aproximou-se do governador. Até Flávio, de quem era amigo, o proibiu de usar imagens dele e ou do pai para se promover politicamente.
Para as hostes do prefeito, o nome do PSL a vice que mais agrada parece ser mesmo o de Major Fabiana. Cotada para o posto nos últimos dias, a deputada entrou em baixa, depois que declarações suas contra Crivella vieram à tona. Bethlem, contudo, mira as principais características da parlamentar ao descrever o perfil ideal para o indicado: “O interessante é que fosse mulher. Uma militar seria ótimo”.
Para o ex-deputado, as críticas de Fabiana a Crivella pertencem ao passado. “Isso acontece na política. Já faz mais de um ano. Esses comentários são feitos e absorvidos. O mesmo podemos dizer em relação a Crivella e o eleitorado. A avaliação de governo dele há seis meses era uma, mas é outra agora, até pela atuação durante a pandemia”, diz.
Bethlem afirma que Crivella contaria com apoio de até 30 dos 51 vereadores. Sobre Bolsonaro, nega a falta de engajamento. “Bolsonaro não tem sido neutro”, diz. Bethlem cita a participação do presidente na inauguração de uma escola cívico-militar no Rio, no dia 14, ao lado de Crivella, e a filiação dos filhos e da ex-mulher de Bolsonaro ao Republicanos: “Parafraseando o finado governador Brizola, se tem rabo de porco e focinho de porco, é porco, né?”
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