O
surgimento dos neopopulismos nos anos 2000 levou a emergência de uma linha
editorial focada nos riscos e enfraquecimento da democracia. Em linhas gerais,
todos os autores destacam, dentre as razões do sucesso dos regimes iliberais, o
papel das redes sociais e da internet.
Estas,
utilizadas para manipular eleitorados com base na utilização dos dados das
grandes plataformas da internet – Facebook, Twitter, Google, Instagram -, tendo
por ferramentas a Inteligência Artificial e o Big Data, colocam em risco a
expressão da vontade popular em pleitos democráticos, a formação da vontade das
maiorias e a própria verdade, isto é, os conceitos, valores e princípios
partilhados por uma dada sociedade.
Da
Empoli, no seu livro “Os Engenheiros do Caos”, radicaliza os riscos, ao
concluir que a política mesma, tal qual a conhecemos, está com os dias
contados. Segundo ele, não mais os políticos usam as ferramentas da tecnologia
e os algoritmos para alcançar suas vitórias. São os algoritmos que, tendo
por base a poderosa máquina das redes sociais, escolhem os políticos que melhor
se adequam às possibilidades de obtenção de likes e
engajamento – o fim último das plataformas da internet.
A
exemplo do movimento Cinco Estrelas, hoje o maior da Itália, que escolheu o
comediante Beppe Grillo para ser a face humana a popularizar o
partido-algoritmo e vociferar contra o parlamento e as instituições
democráticas. O conteúdo, a ideologia, o programa, ser de direita ou de esquerda,
libertário ou fascista, racista ou antissemita, verdade ou fake news, nada importa.
E,
como o ódio, a denúncia, o escândalo e o absurdo geram muito mais likes e engajamentos que a verdade, são eles
que os algoritmos irão promover, destruindo todo e qualquer propósito ou razão
política à sua frente. Isso leva Dominic Cummings, estrategista-chefe do
Brexit, a afirmar que “quem quiser ter sucesso na política deve procurar
físicos (de dados) e não marqueteiros”.
Certamente,
essa “pós-política” ainda não tomou o lugar da política tradicional, mas é uma
questão de tempo para que isso ocorra, pois os algoritmos podem chegar a cada
um, através de mensagens via redes sociais, baseadas em dados sobre nossas
personalidades, escolhas e gostos, de modo invisível ao público e com uma
verdade, fake ou não, que alimente a raiva, rancor e ódio da política e dos
políticos.
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