Marcelo Crivella se candidatou a prefeito, mas governa o Rio como bispo. Desde que tomou posse, ele serve aos interesses da Igreja Universal, fundada por seu tio. A cidade que se julgava cosmopolita virou laboratório de um projeto que mistura política e religião.
Neste modelo de governo, as crenças do pastor falam
mais alto que as obrigações do gestor. Crivella boicota o carnaval, festa mais
importante da cidade, porque sua igreja associa a folia ao pecado. A atitude
prejudica o turismo e a indústria do samba, que gera milhares de empregos
durante todo o ano.
Em 2019, o prefeito mandou apreender um gibi por
causa de um beijo entre dois homens. A censura foi derrubada pela Justiça, mas tumultuou
a Bienal do Livro. Há quatro meses, ele mandou instalar um tomógrafo no
estacionamento do templo da Universal na Rocinha. O aparelho deveria ter sido
montado na UPA, onde os moradores são atendidos sem discriminação religiosa.
A confusão entre fé e política não é o único pecado
do bispo. Sua gestão é manchada por escândalos em série, que já geraram cinco
pedidos de impeachment. As acusações vão de favorecimento a pastores nos
hospitais a negócios suspeitos em área de milícia.
Na semana passada, a Câmara livrou Crivella do
quinto processo de cassação. A denúncia foi apresentada depois que a polícia
fez buscas na casa dele. A investigação apura a existência de um “QG da
Propina” na administração municipal.
Os desmandos levaram o prefeito a bater recordes de impopularidade.
Em dezembro passado, 72% dos cariocas consideravam sua gestão ruim ou péssima.
Mesmo assim, ele sonha com a reeleição. Seu trunfo é o apoio do clã
Bolsonaro, aliado da Universal no plano nacional.
Ontem o TRE condenou Crivella por abuso de poder político para beneficiar o filho, que se candidatou a deputado em 2018. Os dois foram declarados inelegíveis por oito anos. As provas são fortes, mas o julgamento às vésperas da eleição oferece ao prefeito o papel de vítima. Sem realizações a mostrar, ele retomará o discurso de que é perseguido pelos poderosos. Seria melhor deixar os cariocas usarem a urna para despejá-lo.
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