Bolsonaro
diz que os índios estão cada vez mais iguais a ele. Se for, que destino
terrível
Em live na última quinta-feira (24), Jair Bolsonaro declarou que o índio "evoluído" deveria ter "mais liberdade sobre sua terra". Ao seu lado, o destruidor do Meio Ambiente, Ricardo Salles, dava seu aval à ignorância presidencial. Essa fala ecoou uma anterior, de janeiro, em que Bolsonaro disse: "Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós. Vamos fazer com que o índio se integre à sociedade e seja realmente dono da sua terra indígena, isso é o que a gente quer".
A
gente quem, cara-pálida? Nenhum antropólogo digno de seu diploma concordará com
uma só de suas palavras. A "evolução" que Bolsonaro atribui ao índio
é a de expor-se de vez às mazelas da civilização, como doenças, alcoolismo e
mendicância. A "liberdade" que visa conceder-lhe, ao torná-lo
"dono da sua terra", é a de deixar-se tapear e exterminar pelos
invasores, pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, grileiros, jagunços e outras
categorias de quem ele, Bolsonaro, é tão próximo.
Atribuir
à ignorância a política mortal de Bolsonaro para o índio é quase um gesto de
boa vontade. Supõe que ela se deva apenas ao seu bestial desconhecimento do
assunto —um dia saberemos. Mas espanta que os generais que sustentam seu
governo tenham esquecido os ensinamentos de um homem que, até há pouco, era um
de seus modelos: o marechal Candido Rondon.
"Nosso
papel social deve ser simplesmente proteger, sem procurar dirigir nem
aproveitar essa gente", disse Rondon em 1912, pela voz de outro grande
brasileiro, Edgard Roquette-Pinto. "Não devemos ter a preocupação de
fazê-los cidadãos do Brasil. Índio é índio, brasileiro é brasileiro. A nação
deve ampará-los e mesmo sustentá-los, assim como aceita, sem relutância, o ônus
da manutenção dos menores abandonados, dos indigentes e dos enfermos".
Para
Bolsonaro, o índio é "cada vez mais" um ser humano "igual a
ele". Se isso for verdade, que destino terrível.
*Ruy
Castro, Jornalista
e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson
Rodrigues.
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